sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Tentando ser normal
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
A conversa dos outros
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Striptease por acaso
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Crianças e Animais

domingo, 25 de outubro de 2009
Existem dias em que tudo acontece
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
A armadilha
A Suspeita
Houve um tempo em que trabalhei durante vários meses numa área de risco na cidade do Rio de Janeiro. Entende-se aqui como "área de risco" um lugar geralmente dentro ou perto de uma comunidade carente onde há frequentes confrontos entre a polícia e bandidos, como também entre grupos rivais. Um lugar perigoso.
Nos primeiros dias, confesso que me senti bastante desconfortável. Esta sensação devia ser facilmente percebida, porque só de olhar as pessoas do lugar já sabiam que eu não era dali. Pareciam me olhar com desconfiança, o que me deixava ainda mais sem jeito. Era um outro mundo, uma outra realidade. E eu andava sem saber o que iria acontecer a cada passo.
Mas a gente se acostuma com tudo. Em poucas semanas, eu já sabia andar rapidamente pelos corredores, becos e ruelas. Por onde entrar para desaparecer instantaneamente da rua principal. Já me acostumara com a falta de privacidade dos moradores e não me inibia em cortar caminho pela casa dos outros, passando por baixo de roupas penduradas na corda, me esquivando de porcos que se regalavam em poças de lama, espantando nuvens de moscas e assustando os cachorros que apareciam no caminho.
Pela minha natureza comunicativa, fiz logo amizade sobretudo com adolescentes e crianças. Mas também aprendi novos reflexos e outras formas de comunicação próprias daquele lugar. Para que lado e a que distância deveria olhar com atenção. Um código que eu nem sabia que existia.
Costumava ficar de papo furado com a garotada, fazia brincadeiras. Pegava lápis e papel e desenhava seus rostos. Depois pedia que me desenhassem também. Caía todo mundo na gargalhada com os resultados. Me ofereciam doces e biscoitos, uma flauta pra tocar. A cada dia a gurizada aumentava em volta de mim.
Mas com a violência aumentando assustadoramente, decidi parar de trabalhar naquele lugar. Saí dali com lágrimas nos olhos ao me despedir dos garotos. Muitas vezes quando passava pela avenida principal e olhava em direção daquela comunidade, eu constatava que mesmo de longe eu ainda reconhecia muitas das casas humildes e vielas. Eu ainda sabia o que dava aonde.
E tudo passou. Então, já trabalhando em outro lugar da cidade, uma vez eu estava voltando para casa num ônibus, às 11 da noite. Devia haver uns 15 ou 20 passageiros no ônibus. Todos cansados, em silêncio. Ao passar por uma região perigosíssima, uma das muitas apelidadas de "Faixas de Gaza" da cidade, todo mundo ficava meio apreensivo dentro do coletivo. Tudo o que queriamos era que o ônibus passasse rápido por ali. Era óbvio que, no fundo, todo mundo estava com medo. Rezávamos para que nada fizesse o ônibus parar. Não-para não-para não-para!!!
Só que nesta noite o ônibus parou. Um olhou pra cara do outro e aguardou o que poderia acontecer em seguida. Naquele horário era tudo possível. Ouvimos as vozes, os passos, as gírias de um grupo de uns 10 entrando no ônibus e tomando o corredor central. Ninguém tinha coragem de olhar de frente. De rabo de olho, eu vi as pernas magras, os chinelos de dedo, os pés esparramados. Todo mundo esperando pra saber o que ia acontecer. Atrevida, olhei pra cara deles -- bem na hora que olharam pra minha cara também!
2 segundos se passaram até que um deles, o que usava um gorro que cobria as sobrancelhas com um brasão do Flamengo, se abriu num sorrisão: "AEEEEÊ QUEM TAÍ!!!!" Eu os reconheci imediatamente! Eram os garotos que eu conheci naquela "área de risco" onde trabalhei!!! Eles, que eram uns guris, já estavam uns homens! Que surpresa! Me reconheceram! Afinal era ótimo! Já não estava mais com medo!
Todos sentaram em volta de mim fazendo arruaça. Era o jeito deles. Uns botavam meio corpo pra fora da janela do ônibus gritando "UHUUU!!!" Começaram a batucar na lataria do veículo. "E AÊ?! NUM PARECEU MAR LÁ NAS PARADA?" (Só falavam gritando.) "PARECE LÁ! TÁ MANERO!!!". Começamos a lembrar das brincadeiras e caímos na risada. Um deles me falou que ainda guardava meus desenhos.
Eles foram embora dois pontos depois e o ônibus seguiu viagem tranquilo. A zona de perigo ficara para trás. Então eu percebi que os outros passageiros estavam me olhando de forma esquisita. Estavam todos ainda paranóicos. Continuavam desconfortáveis, evitavam meu olhar. Uma coisa estranha que eu não sei nem explicar. Até que entendi. Eu, euzinha, passei a ser a “suspeita”!!! E foi assim que por meia hora eu me senti como se eu fosse um dos garotos da faixa de Gaza.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Quem é mesmo você?
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Um Natal Diferente
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Achados e Perdidos
Todo mundo, de vez em quando, perde ou acha alguma coisa. É a chave, o boné, o óculos, o celular e, pior, os documentos. Eu nunca fui muito de perder objetos, embora já tenha perdido alguns. Sou mais de encontrar coisas perdidas, talvez porque eu seja bastante observadora e reparo os detalhes do ambiente onde me encontro.
Obviamente, pessoas de determinadas profissões devem encontrar mais objetos que qualquer pessoa comum. Motoristas de táxi, garis, camareiras de hotel devem estar sempre encontrando coisas. E há também aqueles que encontram grandes somas de dinheiro e que viram até notícia de jornal quando entregam a fortuna de volta a seus donos.
Mas se não é uma fortuna que achamos, se é apenas uma nota caída na calçada, ficamos até felizes com o achado. Uma vez, caminhando com duas amigas, encontramos a maior nota da época na rua. Nossa! Fizemos festa! Fomos a uma pizzaria e comemos por conta do achado!
Por duas vezes na minha vida encontrei montes de moedas. A primeira vez aconteceu quando fui a um teatro assistir a um show que já tinha começado quando cheguei. Estava escuro e não havia lugar para sentar. Sentei num degrau do corredor. Foi quando reparei (pelo tato), que haviam muitas moedas no chão. Até hoje não sei como alguém poderia ter levado tantas moedas para um teatro! Outra vez foi na minha rua mesmo. De manhã cedo, quando saí para comprar alguma coisa, ninguém na rua, vi aquele monte de moedas num canto junto do meio-fio. As moedas deviam ter vindo de uma latinha que estava perto com a tampa um pouquinho mais longe. Não é uma coisa comum de se ver e eu pensei na criança que havia perdido seu cofrinho.
Mas existem achados de "qualidade", cujos donos são quase impossíveis de localizar. Um amigo meu encontrou um casaco num banco de praça com uma gaita maravilhosa dentro do bolso. O casaco e a gaita indicavam que o dono era uma pessoa fina... e esquecida! Existem também perdas de "qualidade": para este mesmo amigo, emprestei um violão e ele o esqueceu no vagão de um trem!
Às vezes as pessoas esquecem de coisas enormes, não sei como! Na saída da faculdade, eu conversava com um grupo de amigos enquanto esperávamos o ônibus, quando um deles pareceu ter levado um susto, dizendo: "Esqueci que eu vim de carro!!!" Ele ia esquecer o próprio carro no estacionamento!
A melhor coisa do mundo é quando a gente consegue achar o que perdeu. Passeando com meu cachorro, que parecia ter mais força que eu me puxando pra onde ele queria ir, acabei perdendo um anel de ouro com pedrinhas preciosas. Andei muito pela rua procurando o anel e não encontrei. Fiquei chateada... Dias depois, andando com o cachorro, já de noite, vi aquele brilho no chão de paralelepípedos da rua. Era o meu anel!!!
Existem umas coisas, que quando encontradas, nos fazem querer achar o dono custe o que custar! Pelo menos eu sou assim!Encontrei, certa vez, junto do telefone público, uma carteira com todos os documentos de um rapaz. Entre os documentos, havia uma carteira de um clube com o endereço do rapaz. Não era longe de onde eu estava. Por isso, resolvi ir até lá entregar em mãos a carteira. Andei e andei... não era tão perto assim! Chegando lá, a senhora que atendeu a porta me falou que o rapaz havia se mudado e me deu o novo endereço. Era um pouco mais longe de onde eu estava, mas não tão longe que me fizesse desistir.
Fui em casa pegar o carro porque dessa vez não dava pra ir a pé. Eu podia muito bem ter deixado os documentos no correio, mas imaginei que um rapaz novo poderia não pensar em ir aos correios. O lugar era mais difícil de encontrar do que eu imaginava. Eu conhecia a rua, mas não sabia que era tão longa... De repente observei que eu estava perdida num lugar ruim demais de dirigir. Eram ladeiras que a gente acha que o carro vai virar, buracos enormes, muita lama... Meu Deus! Onde eu estou?! A rua terminava num portão. Uma criança o abriu sem que eu pedisse. Parecia estar ali somente para isso. Era uma área enorme, com uma comunidade que eu nem sabia que existia naquele bairro! Larguei o carro e segui caminhando até finalmente encontrar a casa do rapaz, que ficou feliz em ver seus documentos de volta. Ele explicou que havia sido assaltado enquanto falava ao telefone e o ladrão devia ter largado sua carteira ali. Voltei para casa pensando que da próxima vez seguirei direto para os correios!
E quando é o ladrão quem esquece os documentos? Há muitos anos atrás, uma pessoa entrou na minha casa para roubar o que havia pelo quintal, mas na fuga deixou cair seus documentos e foi localizado também!
Às vezes a pessoa que acabou de perder um objeto valioso está bem na nossa frente e temos que ser atletas para alcançá-las. Uma vez andando em direção ao banco, na hora do almoço, vi que dois rapazes a alguns metros na minha frente deixaram cair alguma coisa no chão e continuaram andando. Quando cheguei perto, vi que eram cartões de crédito e de banco. Os rapazes altos com longas pernas, andavam num passo rápido e se afastavam cada vez mais de onde eu estava. "Hey!" (gritei em inglês porque isso aconteceu nos Estados Unidos). Os rapazes não ouviram. Pareciam jogadores de hockey ou de baseball, atletas com certeza, de tão rápido que caminhavam. Eu corria atrás. Já tinha passado a rua do meu banco e eu ainda correndo... Quando finalmente os alcancei, confesso que eu estava bufando e no dia seguinte estava dolorida pelo esforço repentino.
Ainda nos Estados Unidos, fui num show de rock e no final encontrei uma guitarra esquecida no gramado. Fico pensando: como é que pode? Devia ser de um dos músicos. Não conseguia imaginar uma pessoa indo a um show levando uma guitarra sem ser um dos músicos. A sorte foi que horas mais tarde consegui fazer contato com um dos organizadores que imediatamente telefonou para o roqueiro esquecido e ele foi buscar a guitarra na minha casa.
Mas o caso mais inusitado de achados e perdidos que já presenciei aconteceu num restaurante em Kendall onde trabalhei há anos atrás. O restaurante, frequentado por estudantes, professores e funcionários da Harvad University e do MIT, batia o récorde de objetos esquecidos. Os estudantes, que usavam o restaurante como ponto de encontro para estudar e discutir, ficavam envolvidos em suas fórmulas e problemas científicos, sendo completamente distraídos em relação aos seus objetos pessoais.
Eu vivia encontrando guarda-chuvas, luvas, casacos, gorros, bolsas, livros e entregava para o gerente, que guardava tudo num armário. Certa vez, porém, na hora de fechar o restaurante, encontrei uma cueca em cima da mesa. Não querendo fazer distinção entre um e outro objeto perdido, levei a cueca para o gerente. Ele reagiu com surpresa: "Meu Deus! Até a cueca deixaram em cima da mesa? Isso ninguém vai vir buscar! Vou jogar fora no lixo!" Nesse momento, o faxineiro estava passando com o saco de lixo e o gerente jogou a cueca no saco, que foi imediatamente fechado e levado para fora.
Menos de um minuto depois, um jovem asiático de óculos, deu duas pancadinhas nas minhas costas com o dedo indicador, como se eu fosse uma porta. Eu conversava com o gerente e nós paramos a conversa para ver o que o rapaz queria e ele disse: "Eu queria saber se por acaso vocês viram uma cueca..." Eu e o gerente prendemos o riso e fomos para os fundos do restaurante fingindo procurar a cueca.
E você? Tem alguma história interessante sobre achados e perdidos que queira compartilhar?