Eu percebi que algo havia mudado no mundo quando perguntei ao meu filho o que ele queria ganhar no aniversário e ele respondeu: "Uma placa!" E eu fiquei incrédula. Aquilo não era presente! "Uma placa??? Como assim?", mas era tudo que o garoto queria.
A era do computador tinha chegado lá em casa. Na verdade a coisa começava toda manhã, na hora de varrer a sala. Tinha que ter duas pessoas: uma segurando os fios que brotavam da parte de trás do computador e outra varrendo. Aliás, também tive de destinar boa parte da estante da sala, duas portas pelo menos, para servir de "cemitério". Lá eu colocava os monitores que ficaram verdes de repente, os teclados travados por biscoito, uma quantidade imensa de fios que eu não sabia nem pra que servia e dúzias de placas, antigos disquetes e CDs de todos os tipos.
A coisa não parava aí. No início era apenas aquela mesinha com o computador num cantinho da sala, mas o espaço na casa destinado ao computador cresceu de um jeito, que agora cada quarto tem uma mesa grande com um computador diferente, todos interligados em rede. Entretanto, houve algo que não mudou: quando chega de manhã, cada uma dessas mesas está uma bagunça tão grande, que não dá pra acreditar. São 5 ou 6 copos vazios, cinzeiros transbordando, dezenas de canetas, caixas de fósforo, papéis, CDs, roupas, pacotes vazios de biscoito, papel de bala, pilhas, chave de fenda - tem de tudo!
Se sacudir o teclado no ar, cai uma chuva de fragmentos, se não cair junto as próprias teclas. É pior que sofá depois de festa. Se for olhar debaixo do mouse - nossa! Parece pescoço de garoto depois da partida de futebol. Sem falar naqueles padmouses, que quando velhos ficam um horror!
Além de todos estes inconvenientes, ainda nos deparamos com verdadeiros desafios à nossa paciência. Por exemplo: eu já sei, de antemão, que minha impressora vai travar exatamente na hora que eu tiver de imprimir o recibo do meu imposto de renda. As impressoras parecem estar sempre conectadas ao nosso emocional. Defendo a teoria de que esses eletrônicos de alguma forma conseguem captar nosso estado de espírito.
Mas a gente não desiste. Uma vez comprei um mouse sem fio que custou caro demais: dava pra comprar uns 4 dos comuns. Mas o mouse sem fio era um inferno. Além de me criar uma tendinite porque era pesado demais, ainda ficava sem pilha nos momentos mais inconvenientes!
Meu monitor, atualmente, é extremamente sensível. Ele desliga cada vez que meu cachorro se coça embaixo da mesa. E não liga de novo não!!! Eu não falo nada dos gatos. Afinal eles não têm culpa de pisar exatamente na tecla Ctrl e assim deixá-la presa, grudada no fundo do teclado, criando a sensação de que meu computador foi invadido por um vírus terrível.
Apesar de tudo, gostamos tanto do computador, que damos aquele sorriso sem graça quando chega uma visita e a gente tem que largar uma mensagem no meio da digitação. O pior é quando a visita se senta na nossa cadeira de rodinhas e simplesmente toma para si o nosso próprio computador! (E parece que não se levantam nunca!!!)
E quando a gente está bem no meio daquele jogo legal, mas precisa se levantar e sair do computador exatamente as 5h da tarde porque tem um compromisso... A hora passa rápido e nada do jogo terminar! Você pensa: "Dá pra se arrumar em 15 minutos" e continua jogando... 5h15 chega logo e você começa a digitar em pé... 5h20 não tem jeito: se não sair agora não vai dar tempo! 5h25 save game... 5h30 aperta reiniciar sem querer... 5h35 "Acho que dá pra ir sem tomar banho..." 5h40 "Cadê a chave!!!"
E todo dia começa tudo de novo.