Nem sempre deu tudo certo no meu trabalho com as miniaturas. Houve ocasiões em que tudo deu errado. No início, experimentei queimar minhas peças de argila num forno elétrico que meu marido construiu. Eu me lembro que ele tentou usar resistência de chuveiro, mas não aquecia o suficiente. Então arrancou a espiral de cadernos universitários e usou como resistência! E foi com isso que o nosso forno funcionou!
Nós morávamos num apartamento térreo tipo casa e do lado de fora, nos fundos e à pouca distância, havia um quarto que transformei em atelier. Mas eu vivia sobrecarregada com as encomendas, filhos, casa, bichos, de forma que uma noite fomos dormir e quando acordei pela manhã e abri a janela, descobri que o meu atelier inteiro tinha queimado durante a noite! Meu marido tinha esquecido o forno ligado! Perdi todo o material. Tudo estava preto, como carvão! Não deu pra salvar absolutamente nada. Tive de começar tudo de novo, do zero.
Em outra ocasião fui morar temporariamente na casa dos meus pais, mas apesar da casa ser enorme, não havia um lugar onde eu pudesse fazer minhas miniaturas. A casa tinha sido recém construída, tudo era novo, mas ainda havia, nos fundos, o barracão da obra, que meu pai havia feito num terreno vizinho. Com o final da construção, o barracão ficou abandonado no matagal. E foi ali que fiz meu atelier improvisado.
De vez em quando eu era surpreendida por mosquitos, formigas, grilos, bruxas, morcegos, mariposas enormes, se bobeasse tinha até cobra ali, pois durante a construção meu pai matou várias. Encontrou até um gambá! Então, depois que meus filhos iam dormir, lá ia eu pro meio do mato fazer miniaturas no atelier-barracão e ficava lá até a madrugada. Era desconfortável, mas era o que eu tinha.
Uma noite, quando eu estava terminando uma série de peças, começou uma ventania. Uma tempestade forte estava vindo. Comecei a tampar as tintas, guardar as miniaturas em caixas, limpar os pincéis pra poder guardar, mas o vento ficou mais forte, raios, trovões! Larguei tudo e corri pra dentro de casa. Um minuto depois, o barracão simplesmente desmoronou! Caiu! E tudo que eu tinha foi destruído!
Depois disso fiquei um tempão sem fazer as miniaturas. Parecia que eu estava forçando demais a barra. Mas uma vez parecia que a sorte voltou a me fazer companhia. Eu estava em Boston e um dia tentei explicar a uns amigos americanos como eram as miniaturas que eu fazia. "Por que você não faz umas e traz pra gente ver?", sugeriram. E foi assim que improvisei também um atelier lá em Boston e comecei a vender miniaturas naquela cidade.
Fiz tantos contatos, que acabaram me convidando para expor meus trabalhos no Museu de Sommerville (por um dia apenas). Fiquei super feliz. O problema é que na noite da véspera da exposição houve uma tremenda tempestade de neve! Ventava tanto que a neve passava pela janela na horizontal.
"Pronto! Ninguém vai a exposição nenhuma!", pensei. Mas sem perder a linha, lá fui eu pra minha própria exposição, sozinha, como sempre. O museu era meio contra-mão: longe pra ir a pé e perto pra ir de carro. Resolvi ir à pé (não tinha limosine branca não..). Chapéu de feltro na cabeça, vários casacos e por cima de tudo um casaco lindo de camurça marrom, que eu tinha comprado para a ocasião. Mas foi só eu dar 3 passos na rua e um pombo fez cocô no meu braço! Destruiu meu casaco!
Fui xingando, resmungando sozinha! Estava tão frio que eu não aguentava nem fumar! Como eu pensei, o museu vazio, ninguém. Quem vai sair de casa num frio desse? Mas meia hora depois, o museu encheu de gente!!! Só descobri o mistério da chegada repentina de tanta gente quando fui fumar do lado de fora. O museu ficava em frente de uma igreja! No final de cada missa, todos os fiéis atravessavam a rua e entravam no museu!
Acho que fui salva pela fé!