Mas quem começou com essa história na minha casa foi a minha irmã. Ela se correspondia com uma garota alemã. Na época, ainda havia o muro de Berlim e a menina morava do lado de lá do muro, ou seja, na Alemanha Oriental, a antiga DDR.
É lógico que naquele tempo, quando tudo parecia envolvido em grande mistério, tínhamos uma curiosidade incrível em saber como era a vida do outro lado da cortina de ferro e a garota gostava de contar como eram as coisas por lá.
Eu me lembro que uma vez a menina foi passar as férias de verão na antiga União Soviética, a URSS. A família foi para uma cidade litorânea e levaram até um barco, mas chegando lá, mesmo sendo verão, a temperatura estava abaixo de zero e, com tudo congelado, não puderam usar o bote.
Nessas alturas, eu também já começava a ter meus correspondentes e estávamos sempre olhando a caixinha de correio pra ver se haviam cartas. Porém, um belo dia, encontramos uma espécie de aviso dos correios para comparecer a uma agência. O motivo era uma "carta dilacerada de Moscou". Tomamos um susto! Que diabos era aquilo? Minha irmã foi à agência dos correios e lá recebeu uma carta que havia sido rasgada no caminho.
Tive oportunidade de ver a tal carta. Não era uma carta comum, de papel branco e escrita à mão. Na verdade, era um papel enorme, que à primeira vista parecia um mapa! Haviam figuras de alguns satélites soviéticos e de tanques de guerra. Tudo escrito em russo. Era um negócio de respeito! Sendo isso nos tempos da guerra fria, a tal carta ganhou um clima digno dos filmes de 007.
Entretanto, apesar das aparências, o tal "mapa" era apenas o prospecto de um museu, possivelmente um museu da ciência, que a menina havia visitado nas férias. E eu, com a minha fértil imaginação, ficava a fantasiar algum agente soviético inspecionando a carta enquanto ela ainda transitava por aquelas terras geladas.
Mas é incrível como tudo se vai. A grande união das repúblicas soviéticas se dissolveu. O muro de Berlim caiu. A cortina de ferro se abriu. A guerra fria se dissipou no ar. E o que hoje é tão importante, também passará.
Fiquei preso a cada linha, como se estivesse lendo o conto de um livro. Mas faltou o mais importante para matar a minha curiosidade:
ResponderExcluirE a garota? Ainda tem conversado com ela? Como ela está hoje?
Oi Eduardo,
ResponderExcluirMinha irmã e a menina eram novinhas, adolescentes, quando escreviam uma pra outra. As duas queriam estudar educação física. Acho que pararam de escrever uma pra outra quando entraram pra faculdade e faltou tempo. Uma das últimas cartas dela, enviava uma gravura do ursinho misha, o símbolo das olimpíadas de Moscou.
Leila,
ResponderExcluirMuito legal esse texto.
Já imaginei vocês chegando na agência do correio e um agente da KGB esperando pra interrogar vocês...hehehe
Abraços
Oi Max,
ResponderExcluirIsso que eu ficava imaginando...kkkkkkk
Valeu por comentar aqui.
Olá Leila,
ResponderExcluirEu tinha um amigo meu de escola, que tinha ido morar em Hamburgo, e trocavamos cartas, isto no inicio dos anos 1980.. Depois os contatos e cartas rarearam e nos perdemos...me lembrei desta história, lendo a tua...
Abraço
Olá Leila!
ResponderExcluirTambém adorava escrever cartas e até fui passar férias na casa de duas pessoas que conheci através dos correios(uma em Canoas e outra em São Luiz Gonzaga/RS)Mas hoje acho divertido conversar pela webcam...hehehe
Beijos!
Ninguem mais escreve cartas...a era do "teclar" chegou para ficar.....
ResponderExcluirA evolução das comunicações existe para que o tempo se encurte cada vez mais e por maior a distancia a comunicação será sempre fácil e rápida.
Querida amiga Leila,você me fez voltar a minha juventude!sempre gostei de escrever cartas,me corresponder com amigas,porém tudo isso ficou para trás!Que ssaudades!!!Parabéns pelo post!Bjs!!!
ResponderExcluirVoce sempre deixa a gente morrendo de curiosidade com esse finais com gostinho de quero mais.
ResponderExcluir:)
Pois e, me fez lembrar as revistas antigas que traziam esse espaço onde pessoas anunciavam que procuravam amigos, namorados, realmente tinha outra magia nao e mesmo, mas tudo se vai.
ResponderExcluirOi,bela,cê escrevia à máquina ou c/ caneta? Pq a segunda opção faz um calo terrível no dedo médio,né não? Eu que o diga!Mas,até hoje,ainda rabisco muito em papel... Gostei do clima de amizade e mistério; o final é ótimo.Realmente,tudo passa,o tempo nos varre;o que sobra é História...
ResponderExcluirUm abraço,Leila,valeu!
Oi Radi,
ResponderExcluirSempre escrevi igualmente na máquina e com caneta, mas nunca tive calo. Acho que depende da maneira como seguramos a caneta ou o lápis. Mas já vi calos nos dedos de outras pessoas.
bjs
Nunca fui muito de me corresponder via carta. Com isso acabei me distanciando de muitos amigos que hoje nem sei por onde andam.
ResponderExcluir