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Eu era adolescente e saí com um grupo de amigos da mesma idade para brincar de teatro. Tínhamos interpretado uma peça na escola e queríamos treinar expressões corporais ao ar livre.
O dia estava nublado, tinha chovido e as praias estavam vazias. Por isso, procuramos uma praia perto de onde morávamos, um lugar que hoje em dia jamais iríamos, por ser deserto e perigoso. Naquela época não havia perigo.
O terreno junto da praia havia recebido aterro. Quando a areia branquinha acabava, vinha um verdadeiro "degrau" de mais de 1 metro de altura, onde podíamos ver as camadas dos tipos diferentes de terra colocada ali por máquinas.
Num momento de descanso, sentei ali, junto ao "degrau" e comecei a observar as cores das camadas de solo. Uma delas parecia uma massa mole e clara, quase branca. Peguei um bocado com as mãos e vi que era bastante maleável. Imediatamente modelei um rosto, que até hoje guardo comigo.
Gostei tanto da massa, que levei um bocado para casa e depois ainda voltei lá naquela praia para pegar mais. Fiz mais algumas peças, mas acabei deixando de fazer. Tinha o colégio, os estudos, não dava tempo.
Os anos passaram. Eu entrei pra faculdade de Comunicação Social, para estudar jornalismo e comecei a trabalhar. Depois casei, tive um filho e logo já estava esperando outro. Parei de trabalhar fora neste período. Mas meu marido ficou sem emprego e eu, grávida, não tinha a menor chance de arranjar um emprego. Estávamos em apuros.
De repente, do nada, tive a idéia de pegar aquela massa velha e ressecada que eu ainda tinha
guardada e, em vez de fazer um rosto, que não é nada comercializável, fiz uns cachorrinhos estilizados, e meu marido saiu para tentar
vendê-los e assim ganharmos algum dinheiro.
Ele vendeu todas as miniaturas. Fiz mais, criei mais, coloquei novas cores e inventei novos personagens e ele vendia tudo. Estávamos em 1978 e aquilo era novidade. Passei 3 anos criando miniaturas e tudo o que eu fazia era vendido. Começamos a vender na feira de Petrópolis, na UFRJ, Festival de Inverno de Ouro Preto, depois fomos para a feira da Praça XV, Saquarema, Cabo Frio, Copacabana, Ipanema, etc. Foram vários lugares, sempre vendendo bem.
Mas a vida mudou outra vez. Eu e meu marido nos separamos e eu resolvi fazer outra faculdade. Parei de fazer as miniaturas. Estávamos em 1981 e dessa vez eu iria parar por muitos anos. Em 1986 quando estava me formando na faculdade de Arquitetura, um editor quis que eu escrevesse um livro sobre como fazer as miniaturas, mas eu não tive tempo de elaborar este livro, estando no último período da faculdade. Na verdade parei de fazer as miniaturas durante 20 anos.
No ano de 2001, eu estava em Boston, nos Estados Unidos tentando explicar para alguns americanos como eram as miniaturas que eu fazia, então me deram a idéia de fazer algumas para que eles vissem. Aí foi difícil porque não encontrava argila para vender...
Encontrei uma argila sintética na loja Pearl de material de desenho, fiz algumas miniaturas e levei para os americanos verem. Compraram tudo! Começaram a aparecer encomendas, me pediam para fazer as mais diferentes figuras.
Fui convidada a participar de uma exposição com outros artistas no Museu de Sommerville. Eu pensei que ninguém ia visitar a exposição, pois a temperatura estava abaixo de zero, a neve cobria a cidade e o vento gélido era de cortar o rosto, mas o museu ficou cheio!
Mas houve os ataques terroristas em 11 de setembro de 2001 e tudo mudou. As coisas perderam a graça, um medo horrível se apoderou de todos. Voltei para o Brasil em 2003 e guardei para sempre meu green card.
De volta ao Brasil, ainda impregnada pelo espírito americano de fazer qualquer coisa no que se refere a trabalho sem a menor inibição, usei um imóvel da minha família para exibir minhas miniaturas.
Coloquei as peças numa bancada e abri um grande portão de ferro para que todos que passassem na rua pudessem ver meus trabalhos. Para minha surpresa, o primeiro que parou ali foi o carro da polícia!
O imóvel estava fechado há muito tempo e ao ver o portão aberto pela primeira vez, os policiais da ronda possivelmente ficaram curiosos para saber o que havia naquele espaço. Eles viram meu trabalho e foram embora me pedindo para fazer uns policiais em miniatura sob encomenda! Eles acabaram se tornando meus amigos e eu fiz um grande número de policiais de argila para boa parte do batalhão.
Então eu fiquei ocupada e parei de novo com as miniaturas, só retornando uns 2 anos depois, quando me chamaram para participar de uma feira aqui mesmo no meu bairro, no Rio de Janeiro.
Eu me perguntava se aquelas minhas criações que datavam de 1978 ainda iriam vender em 2008, mas venderam bastante!
Meu pai costumava falar que eu transformo terra em dinheiro. Isso é um pouco verdade. A argila é terra, lama e eu preciso de apenas um pouquinho para transformá-la numa criaturinha simpática que é logo vendida. Os palitos de fósforo que aparecem nas fotos servem para mostrar o tamanho de cada figurinha.
Agora parei outra vez, mas todo material, assim como amostras e algumas miniaturas continuam guardados cuidadosamente, até que um novo momento me faça pegar um pouquinho de massa e fazer um novo personagem.
4 comentários:
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21 de março de 2010 às 08:37Muito boas as miniaturas e a sua historia de vida. E pensar que tem gente que não encontra o que fazer!!!!! Voce é um exemplo de que o mal não precisa existir. Trabalhe sempre suas ideias criativas. Elas são do bem. bjs. Luciah
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- Rio de Janeiro, RJ, Brazil
- Escritora freelance, arquiteta, escultora, pintora,miniaturista, professora... a cada dia descubro mais sobre mim.
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25 de junho de 2009 às 09:43
a sua historia de vida e uma licao para todos, nunca se deixou abater ante o reves da vida, lutou, caminhou, seguiu a estrada da vida, indo as por atalhos, mas sempre vencedora ! esta de parabens ! e suas miniaturas sao uma graca, volte a fazer, muito sucesso em tudo que vc fizer. abracos nelly