Julieta, cujo apelido era "Cachinhos de Ouro", estava ansiosa para entrar na escola! Queria aprender a ler e escrever, estudar e ser uma das crianças que ela via passar de manhã bem cedo pela estradinha de barro que seguia o ribeirão.
Finalmente Julieta foi matriculada na escolinha do engenho. Nos primeiros dias, ela ficou muito encabulada, mas se sentia feliz pois sua professora não era tão rígida quanto aquelas que ela já ouvira falar. Ainda não tinha visto ninguém ficar de castigo ajoelhado no milho nem colocado aquele chapéu feito um cone onde disseram estava escrito "burro". A palmatória também ainda não tinha sido usada desde o início daquela primeira semana de aula.
Entretanto, ela já havia observado que sobre a mesa da professora havia uma pedra branca. Era uma pedra grande de rio, mais ou menos do tamanho da mão da professora. Ela não sabia para que servia aquela pedra, mas guardava um pouco de receio. Ela queria fazer tudo certo e não poderia imaginar que um dia pudesse ser castigada seja lá o motivo que fosse.
Julieta também observou que volta e meia um aluno ia até a mesa da professora e lhe falava o que parecia ser um segredo. Algo era dito tão baixinho que ninguém seria capaz de ouvir. E bastava que isso acontecesse e o aluno saía da sala levando a tal pedra. Era um mistério. Mas não demorava muito e lá estava o aluno de volta, com a pedra na mão, e a entregava à professora.
Ainda na primeira semana de aula, Julieta se viu em apuros. Por mais que fosse ao banheiro antes de sair de casa, foi inevitável: durante a aula sentiu vontade de fazer xixi. Prendeu o quanto pôde aquela vontade, mas preferiu falar com a professora do que fazer nas calçolas e passar pelo vexame. Timidamente, se aproximou da mesa da mestra e contou o que se passava. A professora sorriu, apontou o banheiro pela porta aberta e - o pior - entregou-lhe a pedra!
Julieta saiu de sala com a pedra na mão. A professora não havia dito o que deveria fazer com ela. Naquele tempo, a escola era tal qual um simples barracão de madeira na beira do rio. O banheiro era um cercadinho de madeira do lado de fora. Depois de fazer xixi, Julieta coçou a cabeça pensando na pedra que ela não havia ousado colocar no chão.
Achando estar fazendo o melhor, Julieta se abaixou na margem do rio e começou a lavar a pedra. Lavou e esfregou a pedra várias vezes e tirou todo o pó que poderia haver. Enxaguou várias vezes a pedra, que tinha uns pontinhos luminosos quando vista contra o sol. Cheirou a pedra e viu que não tinha cheiro ruim. Por fim, usando a barra do vestido novo, ela secou a pedra até que não houvesse nenhuma parte molhada e voltou para a sala de aula.
Julieta esticou os braços e entregou a pedra à professora: "Está limpinha! Eu lavei muito!". A mestra sorriu e explicou à menina a verdadeira finalidade da pedra: por não ter outro jeito de saber quando um aluno estivesse no banheiro, a professora entregava ao aluno ausente aquela pedra. Se a pedra não estivesse sobre sua mesa, ela já sabia que o banheiro estava ocupado!
Que lindo seu texto amiga, adorei, a predinha ensinou muito a Julieta.
ResponderExcluirOlá Leila tudo bem?, adorei o texto, rs eu não sei quem ficou mais ansioso para saber o mistério da pedra, se foi ela ou eu rsrs !!
ResponderExcluirUma história de pureza. Mas acho que reside o berço da burocracia.
ResponderExcluirNem sei se tem a ver o que vou dizer, mas ao ler sua história lembrei que, certa vez entrei no Ministério da Reforma do Estado, em Brasília (nem sei se esse órgão ainda existe), e lá havia, em cada sala, um quadro imenso, contendo o nome de todos os funcionários, um abaixo do outro. Na frente, havia colunas, cada uma delas correspondendo a uma ação ('banheiro', 'cantina', 'garagem' etc.). De modo que, antes de sair da sala, o funcionário ía ao quadro e marcava com um alfinete, indicando o lugar onde iria. Era ridículo. Mas os gestores da tal idéia se sentiam o máximo. Na visão deles, estavam controlando - com muita eficácia - os funcionários, evitando, assim, o desperdício de tempo.
Valeu mesmo, Leila. Abraços!
Que lindo seu texto
ResponderExcluire as ilustrações também
beijos
Leila,
ResponderExcluirEu achei a tua história emocionante. Uma prática simples e eficaz transformada pela imaginação infantil num mistério delicioso.
Adorei. Parabéns!
beijos
Luísa
Ineteressante essa história. E eu sem bem o que é uma palmatória, o que é ficar atras da porta, ajoelhar em milho. Ih! isso é do tempo em havia uma lousa de pedra, (um minúsculo quadronegro. Alquns tinham, na parte superior, um arame onde haviam um escpécie de argolas para facilitar as operações de mais e minos.
ResponderExcluirÊta tempinho bom aquele. A gente era pobre, mas tinha liberdade. Era feiz e talvez não soubesse.
João
Saudações Natalinas!
ResponderExcluirAmiga Leila,
Que Post Fantástico!
Uma história belíssima que nos envolve do começo ao fim... Ao termino da leitura me veio boas lembranças de minha infância!
Um Post absolutamente. Magistral!
Parabéns pelo lindo Post!
Abraços,
LISON.
É por culpa do seu post, eu acabei lendo 8 vezes para minha filha Brenda viu e, já salvei nos favoritos esse link pq sei que logo vai querer que eu ou papi dela leia... E você é culpada por estar sempre colocando ótimos textos em seu blog onde não importa a idade, todos aprovam, agora presciso sair daqui dos comentários para ler o texto mais uma vez para Brenda que lhe manda Beijo. Ótimo Post. Fique com Deus.
ResponderExcluirParabéns pela história, mas as imagens são lindas!
ResponderExcluirAbraço
Kellen
http://www.meumundoamigo.blogspot.com
A Melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida. Obrigado por acompanhar minha caminhada.
ResponderExcluirFeliz Natal.
Abraços forte
Muito bom o teu conto, saboroso de ler e envolvente, agora pobre Julieta, ser novata realmente é pagação de mico!
ResponderExcluireheheheheh legal
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