Quando cheguei no trabalho - uma loja de chocolates em Cambridge, vi uma mulher abrindo uma cadeirinha de praia na calçada. Ela também trazia consigo uma caixa de papelão e outros objetos. Era uma mulher muito branca, de uns 30 anos, com um jeito de mãe e dona de casa. Não era bonita nem feia, nem gorda nem magra. Sua fisionomia era séria, mas tinha um ar ingênuo.
A fachada de vidro da loja me permitia continuar a ver o que a mulher estava fazendo. Dava pra se notar que ela estava um tanto fora de seu "habitat". Aquele era um lugar onde passavam os turistas e estudantes barulhentos da Harvard, onde músicos e artistas de rua tocavam seus instrumentos atraindo o olhar dos passantes, onde os punks, emos e todas as outras tribos estranhas se reuniam. A presença daquela mulher ali na calçada destoava do resto.
Ela improvisou uma mesinha com a caixa onde colocou potes, tubos e um espelho. Por fim, ficou de pé na calçada segurando um cartaz de papelão. Na loja, os empregados se entreolhavam, como quem diz "O que é isso?", mas não dava pra ver o que havia escrito no cartaz.
Já fazia bem umas duas horas que a mulher estava lá em pé no mesmo lugar na calçada, quando a minha supervisora, a Jo, não aguentou e falou: "Eu vou lá fora ver o que é." Assim, em dois tempos, ela fingiu que ia ver a vitrine do lado de fora e logo voltou: "Ela está se oferecendo para pintar rostos". Não entendi direito. "O que???". A Jo explicou: "Pintar balãozinho, coraçãozinho, estrelinha na testa e na bochecha!" A Jo girou os olhos, foi para os fundos da loja e eu fiquei tentando entender.
Deu meio dia e a mulher ainda estava em pé no mesmo lugar segurando o cartaz. Era hora do almoço e eu fui lá fora. Pude ver seu cartaz escrito com batom rosa sobre o marrom do papelão. Não havia contraste nenhum. Mal dava pra ler. Ela havia pintado um coração cor de rosa em sua própria bochecha e um balão azul claro em sua testa.
Eu estava chocada. Será possível que com tanta coisa pra fazer pra ganhar dinheiro esta mulher tinha escolhido justamente a coisa mais improvável do mundo? Quem ia sentar ali na cadeirinha e pagar para ela pintar um coração com batom em seu rosto? Era inacreditável.
Voltamos ao trabalho na loja depois do almoço. Duas horas da tarde e a mulher na mesma posição segurando o cartaz. Quatro da tarde. Cinco. Ela não havia atendido ninguém. Nenhum "freguês". A Jo estava ficando nervosa de ver a mulher: "Se ninguém sentar naquela cadeira, eu vou sentar!!! Vou sair daqui com um coração em cada bochecha e um balão na testa!!!" Já estava todo mundo nervoso.
Seis da tarde, já escuro, começamos a fechar a loja. A Jo estava decidida a ser a primeira e única cliente da mulher. Ela merecia. Tinha passado o dia inteiro em pé segurando o cartaz. Entretanto, quando saímos da loja, tivemos uma surpresa! A mulher estava curvada pintando um coração no rosto de um rapaz! Eu e Jo nos abraçamos rindo e quase chorando ao ver a cena que não pude mais esquecer.
No dia seguinte, um domingo, eu tinha que ir num almoço na casa de amigos em outra cidade. Quando o carro pegou a estrada, onde as residências já iam se tornando esparsas, eu vi um garoto bonito e arrumado parado num lugar onde não havia ninguém, só ele. Ao seu lado, uma bicicleta novinha e na sua mão um cartaz onde havia escrito $100.
Leila amiga adorei a história.
ResponderExcluirSaudações!
ResponderExcluirQue Post Fantástico!
Amiga LEILA, a persistência, determinação e muito trabalho, quase tudo pode ficar ao alcance, de repente se pode conquistar uma simples pintura num rosto ou ir trabalhar na Casa Branca.
Parabéns pelo magnífico Post!
Abraços,
LISON.
Adorei a história. A vida, as vezes, tem uma poesia incrível! Duas imagens interessantes em um período tão curto.
ResponderExcluirMe levou a imaginar... Será que o rapaz vendeu a bicicleta? Espero que sim. Imagine se ele vendesse para uma garota com o rosto pintado? Ia dar um filme, não? ;-)
Belo texto minha amiga.
Beijo carinhoso, Fernandez.
Olá Leila!
ResponderExcluirLinda história! E o garoto? alguém lhe terá comprado a bicicleta? Merecia um capítulo! :)
Beijos
Luísa
Fiquei fascinado com a persistência da tal senhora
ResponderExcluirparabéns
Olá Leila! Belo post!
ResponderExcluirO improvável também acontece, como alguns milagres...
abraço, Vera.
Olá querida amiga Leila,
ResponderExcluirParabéns por mais esta história fascinante, como todas que narra.
Ao ler, senti pena da mulher e, ao mesmo tempo, admiração pela sua persistência.
Ainda bem que ela conseguiu um rosto amigo para pintar.....e, oxalá o garoto tenha conseguido o seu intento com a bicicleta.
Carinhoso e fraterno abraço,
Lilian
Parabéns Leila, mais um texto excelente!
ResponderExcluirGeralmente classificamos de improvável tudo aquilo que nos dá muito trabalho ou foge do comum.
Quantas vezes deixamos de fazer algo por achar que não seria razoável, por ter medo das dificuldades.
Bela história. Eu diria que é um chacoalhão para nos acordar e mostrar que a vida é um enfrentamento constante.
Beijos
Bel
Olá amiga Leila, que texto excelente escrevestes, fiquei curiosa até o final da história, a qual é bastante interessante. Nunca desista de seus ideais, pois só tentando e tendo muita paciência que conseguirás.
ResponderExcluirBjs.
Parabéns Leila pelo texto fascinante, me prendeu pois fiqei curioso para saber até aonde ia terminar a persistência dessa jovem e do garoto
ResponderExcluirAbraço!
http://oiton.blogspot.com/
Dãããããã... Será q esse povo todo faz negócio comércial c/ espíritos? Quem vai saber? Na dúvida, vamos comprar e pintar a cara "tãobem"...
ResponderExcluir