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Minha vida de alpinista

sábado, 26 de dezembro de 2009 by Leila Franca


Entrar para o grupo das Bandeirantes me ensinou a tomar gosto pela aventura. Acampamentos e atividades ao ar livre passaram a fazer parte da minha vida. Mas quando começamos a ficar um pouco mais velhas, eu e minhas amigas abandonamos os uniformes azuis e passamos a planejar nossos próprios programas, não mais ligados ao grupo de escotismo.

Assim, uma vez nos perguntaram se queríamos fazer uma "escalada". Na verdade era uma caminhada pesada de vários quilômetros até o ponto culminante do município. Um grupo de alunos adolescentes iria subir este pico, a mais de mil metros de altura, acompanhados de professores de educação física. Não conhecíamos nenhum deles, mas poderíamos seguir este grupo, que sabia o caminho.

View of a vineyard with mountains in the background in rural setting

Naquele tempo não havia nada disso de ecoturismo e tudo mais. Hoje em dia esta mesma subida conta com guias, sites na internet, mapas, folhetos etc, mas naquele tempo era só aquele morro alto no horizonte e a gente com vontade de subir de qualquer jeito.

Assim, eu e mais três amigas partimos de manhã bem cedo. Fizemos uma longa viagem de ônibus até a base do morro e começamos a subir a trilha, seguindo o grupo de alunos e professores. Até a metade do caminho foi tudo bem, mas depois o negócio ficou mais complicado. Às vezes entrávamos na floresta e perdíamos a noção do ponto onde estávamos ou então íamos para as clareiras onde podíamos ver ribanceiras bem íngremes. Mas enfim, chegamos ao lugar mais alto. Só faltava subir mais uma pedra...

Foi então que nós vimos, debaixo da última pedra, uma arma e alguma munição! Não era uma arma velha, abandonada ali. Era uma arma que parecia nova, recém colocada naquele lugar. Ninguém ousou mexer naquilo! Não sabíamos se a arma pertencia a algum caçador ou mesmo a um bandido. Subimos na pedra, para completar nossa missão, olhamos a paisagem, mas já havíamos perdido a graça e estávamos morrendo de medo! Quem quer que seja que tivesse deixado aquela arma ali, poderia estar por perto!

rear view of a young woman rock climbing

Resolvemos voltar imediatamente. Os professores e os alunos estavam demorando muito para se organizar, mas enfim começamos descer o morro. Entretanto, em algum ponto do caminho nos perdemos do grupo e a partir dali passamos a fazer a descida por conta própria! Mas isto não nos preocupou. Afinal, era só descer tudo que havíamos subido!

Mas não foi bem assim. Não conseguimos encontrar a trilha que havíamos percorrido para subir o morro. Então nos deparamos com lugares íngremes demais, que não dava pra passar, florestas que tivemos medo de entrar e nos perder e lugares onde parecia que o morro tinha desmoronado em parte, o barro vermelho aparecia e podíamos ver no ar as raízes de árvores enormes, que pareciam que iam desabar a qualquer momento.

Silhouette of young woman at dawn

Resolvemos seguir pelas clareiras, embora fosse bastante íngreme e não houvesse onde segurar. Até que alguém teve a bela idéia de transformarmos as bolsas de couro que usávamos numa espécie de prancha, um snowboard do barro e descer o morro como se fosse um tobogã.

Foi uma descida vertiginosa! Atingimos uma velocidade incrível e íamos gritando!!! Aaaaahhhhhh!!! Descemos um trecho enorme, quase o morro inteiro assim e fomos parar, caindo uma por cima das outras, num canavial lamacento. Estávamos sujas de barro da cabeça aos pés.

View of a bamboo forest

O lugar era um charco. Afundávamos na lama e não enxergávamos um metro à frente por causa da vegetação. Estávamos perdidas, mas não paramos de andar. Já estava entardecendo e tudo o que queríamos era sair dali antes que escurecesse.

De repente, demos de cara com um sujeito no meio do canavial. Era um rapaz visivelmente retardado segurando uma foice enorme! Ele riu, babando pelo canto da boca sem dentes! Olhamos o sujeito por um segundo e... Aaaahhhhhhhhhhhhh!!!!!! Saímos correndo!

O chão foi ficando seco e ainda tomamos outro susto ao ver uma cobra verde passando rápido na nossa frente, até que conseguimos chegar numa estradinha e por fim na avenida principal, onde entramos num ônibus, com todos os passageiros se esquivando de nós.

8 comentários:

  1. Unknown
    26 de dezembro de 2009 às 17:34

    Leila,

    Uma escalada misteriosa! Eu não teria resistido a investigar a arma escondida, ou fazer uma maldade do tipo escondê-la noutro lugar!

    Espectacular a ideia de descer as ravinas sentadas nas bolsas! ahahahha

    Beijos
    Luísa


  1. 26 de dezembro de 2009 às 17:46

    Leila
    Que grande aventura!!!
    Encontrar uma arma é de cortar a respiração!!!! Que medo!
    Mas ainda bem que tudo terminou bem.
    bjs
    joana

  1. Valéria Braz
    26 de dezembro de 2009 às 17:59

    Leila, maravilha! Fui escoteira, na época me recusei a ser Bandeirante!
    Adorei a história... você consegue nos remeter as nossas próprias aventuras...
    Aliás... que perigo em amiga, já pensou se o cara você descendente do Jason do sexta- feira 13....kkkkkkkkkkkkkk
    Beijo enorme no coração

  1. Principe Encantado
    26 de dezembro de 2009 às 20:13

    Enfim, ufa final feliz.
    Abraços forte

  1. LISON
    26 de dezembro de 2009 às 20:15

    Saudações!
    Amiga Leila,
    Que POST Fantástico!
    Mais uma belíssima história cheia de suspense, tão bem escrita que nos sentimos fazendo a aventura!
    Parabéns pela magnífica narrativa!
    Parabéns pelo excelente Post!
    Abraços,
    LISON.

  1. Mr.Diego (Orion)
    26 de dezembro de 2009 às 21:10

    sabia que eu amo escalar? bateu saudades do rapel. eaí? topas? ahahaha
    bjs

  1. Serenissima
    27 de dezembro de 2009 às 04:13

    Nossa!! Que aventura :)
    Corajosa descer sentada numa mochila... caramba, já pensou?

    Muito legal ler os seus textos.

    Abraço

  1. Solange e Alessandro
    27 de dezembro de 2009 às 13:03

    Como as demais postagem, Incrível como você consegue dar vida e emoções nos seus textos. Parabéns amiga não só por essa mais por todas as postagens desse maravilhoso blog. Bjs no Coração

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