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Um presente inesquecível

domingo, 20 de dezembro de 2009 by Leila Franca


Quando era criança, eu tinha uma verdadeira coleção de bonecas. Minha avó, que costurava muito bem, tinha o trabalho de fazer, para as bonecas, roupas iguais as minhas e toda vez que eu trocava de roupa, as bonecas trocavam também. Até mesmo na hora de dormir, todas as bonecas vestiam pijaminhas de flanela iguais ao meu.

window dummies

Eu tinha também uma casinha de bonecas toda mobiliada, feita para o meu tamanho. A porta era da minha altura. Estacionado em frente da casa havia o meu jipe verde. Também havia escorrega, rema-rema, balanço e caixa de areia, tudo no meu quintal.

Eu escrevia cartas para o Papai Noel, onde pedia uns presentes meio impossíveis e meu pai custava a me convencer a pedir outras coisas. Eu queria um carneirinho, um cavalinho, um pica-pau de verdade, mas exatamente igual ao do desenho animado etc. Eu achava que o Papai Noel poderia me trazer os presentes que meu pai não podia comprar. Afinal não estava pedindo ao meu pai, estava pedindo ao Papai Noel! Havia uma diferença muito grande aí!

Girl writing Christmas wish list

Quando chegava a noite de Natal, eu fazia tudo para não dormir. Achava que haveria um dia em que eu iria pegar o Papai Noel de surpresa e teria uma conversa com ele. Não iria deixá-lo sair até que me respondesse as perguntas. Queria saber onde morava, como entrava na casa, com que tipo de veículo chegava e principalmente como poderia ir na casa de todas as crianças só naquela noite. Na verdade, eu queria fazer um interrogatório com o Papai Noel. Já tinha começado a pensar nos detalhes lógicos de sua existência.

Boy watching Santa put presents under tree

A chegada do Natal fazia com que meu lado detetive despertasse. Começava a planejar armadilhas e procurar lugares onde pudesse ficar escondida até sua chegada. Talvez eu estivesse querendo o próprio Papai Noel de presente! Acho que foi por isso que naquele ano, ao perceber minha ansiedade, minha família decidiu arranjar um Papai Noel que eu pudesse encontrar, falar e fazer tudo o que eu quisesse.

Vieram me dizer que naquele ano o Papai Noel em pessoa passaria mais cedo na nossa casa para que eu pudesse conversar com ele. Todas as crianças da família, meus primos e primas, estariam lá para recebê-lo também.

Gifts in front of Christmas tree

No dia de Natal fizeram um espetáculo luminoso na frente de casa. Tudo pronto para a chegada do Papai Noel. As crianças se juntaram para assistir a entrada triunfal do bom velhinho pelo portãozinho da rua. Alguém apagou todas as luzes e quando se acenderam de novo, lá estava ele!

Santa with presents

"Ué... Que Papai Noel esquisito!" - foi o que pensei quando vi aquela criatura vestida de vermelho. Acontece que minha família errou na escolha do parente que faria o papel de Papai Noel naquela noite. Escolheram uma prima de minha mãe - Ester, a pessoa mais magra da família, para representá-lo. Que idéia!

Obviamente, olhei para aquele Papai Noel de cintura fina com estranheza... Que Papai Noel magro é este? Quer dizer então que, na verdade, ele não é gordo? Fui levada para beijá-lo, mas quando ele se abaixou para me beijar, a máscara balançou e eu pude ver a cara da prima Ester! Ah! Que raiva!

Child Smirking

Passei a noite aborrecida, de braços cruzados num canto. Estavam tentando me enganar com aquele Papai Noel de araque! Ganhei meus presentes, que não eram o que eu havia pedido, e eu tinha certeza absoluta, que tinha sido assim porque aquele não era o Papai Noel verdadeiro.

Percebendo minha frustração, poucos dias depois, meu pai providenciou um presente digno de um verdadeiro Papai Noel e bem ao estilo dos presentes que eu geralmente pedia. Vou explicar:

Meu pai trabalhava na prefeitura e naquela época havia o "rapa", que eram fiscais que confiscavam mercadorias vendidas sem licença. Uma das coisas mais apreendidas eram os pintinhos vendidos em caixas de papelão. Naquele final de ano muitas caixas foram apreendidas e na prefeitura não havia mais onde colocar tantos pintinhos. A burocracia naqueles dias de festa se tornara ainda mais lenta, de modo que os dias iam passando e ninguém havia levado os pintinhos para o local onde deveriam ser levados. Eles iam morrer... Um funcionário perguntou ao meu pai se queria ficar com os pintinhos porque naquela época ele tinha um caminhão e era o único que poderia levar os mais de 100 pintinhos para casa.

Baby chickens

Quando meu pai chegou em casa, me falou pra eu ver o que Papai Noel havia deixado pra mim. E foi assim que eu ganhei um caminhão cheio de pintinhos, um presente que nunca pude esquecer.

7 comentários:

  1. Unknown
    21 de dezembro de 2009 às 07:57

    Deslumbrante a tua história, Leila! Adorei.

    Recebeste um verdadeiro presente de Natal. Eu penso que sempre fui dotada de um terrível espírito lógico e realista. Apesar de ser muito imaginativa, criar histórias fantásticas e "viver" nelas, na realidade eu sabia que nada daquilo existia. Desde muito cedo eu "enganava" toda a família fingindo que acreditava que o Menino Jesus descia pela chaminé e colocava os presentes nos sapatinhos. Eu punha-me a pensar e concluía que nada disso era possível: um bebé Jesus, por muito mágico que seja, não anda nem pode carregar caixas de presentes. ehehehh

    Beijos
    Luísa

  1. concentrado
    21 de dezembro de 2009 às 14:47

    Olá amiga Leila, eu também ficava na espctativa de pegar o papai noel, mais nunca consegui, que pena que vc descobriu a verdade e acabou toda mágia

  1. Joselito
    21 de dezembro de 2009 às 18:35

    Coitada ... todos um dia tem a decepção de saber que Papai Noel não existe .... agora você, primeiro ficou sabendo que além de tudo o coitado era um magricela que não fazia jus a fama ... E você não ficou com trauma de infância "Natalicio"?

  1. Kellen
    21 de dezembro de 2009 às 18:43

    Querida Leila!

    Papai Noel pra mim sempre foi um personagem na ficção. Nunca me proporcionaram algo lúdico através da imagem do bom velhinho! mas fazer o que ?
    Abraço
    Kellen e feliz natal!

  1. vovolili
    21 de dezembro de 2009 às 18:57

    Olá querida Leila,

    Amei sua história com o Papai Noel.
    Acho que toda criança quer fazer a mesma coisa, supreender o Papai Noel, e quase sempre, questionar o presente.
    E que tristeza, ao descobrir que não existe Papai Noel, dá uma peninha quando a criança passa por isso.
    No sábado passado, minha sobrinha Erika contou que no encerramento da escola da filhinha dela, minha neta postiça Lara, que a amiguinha viu um Papai Noel chegar de bicicleta e espantada, mas feliz, disse:- Olha, o trenó do Papai Noel deve ter quebrado e ele teve que vir de bicicleta para trazer nossos presentes."
    Quanta inocência! E como será a decepção ao saber da verdade?

    Parabéns!
    Fraterno e carinhoso abraço,
    Lilian

  1. Valéria Mello
    21 de dezembro de 2009 às 23:41

    Você é ótima! kakakak, tinha que esculhambar com o Papai Noel!

    Seu pai foi um sábio!

  1. LISON
    22 de dezembro de 2009 às 04:30

    Saudações Natalinas!
    Amiga Leila,
    Que Post Fantástico!

    É só você mesmo para nos presentear com histórias fascinantes e em especial, natalinas.
    Olha minha amiga, que belo texto. É nota 2010!
    Adorei a sua narrativa!
    Parabéns pelo plantel de pintos!
    Parabéns pelo lindo Post!
    Abraços fraternos,
    LISON.

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