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Na reserva

quinta-feira, 3 de junho de 2010 by Leila Franca


Ontem quando parei no posto de gasolina para abastecer o carro lembrei do meu pai. Enquanto muitos chegam e mandam encher o tanque ou exibem notas de 50 reais, ele não tinha dinheiro e sempre estava com o tanque do carro na reserva. Quando ia botar gasolina no carro levava notas miudas e muitas moedas.

Se fosse hoje, seria algo assim, por exemplo, chegar no posto e dizer:

"Por favor coloque aí 5 reais e 85 centavos de gasolina comum"... Sendo que nesses R$5,85, pelo menos 1 real seria em duas moedas de 50 centavos e os 85 em moedas de 10 e 5 centavos...

Às vezes ainda olhava dentro do carro - uma Brasília - e ainda achava mais algumas moedas.

"Pode botar mais 15 centavos!", completava. E o frentista ficava a vida inteira lá contando os trocadinhos...


Quando fiz 10 anos de idade, ganhei uma bicicleta no Natal. Fomos todos comprar a bicicleta no centro da cidade, no dia 23 de dezembro, quando as lojas fervilhavam de fregueses. Já era tarde quando fomos.

Andamos todo o Saara - as lojas da rua da Alfândega, Ouvidor, Uruguaiana, onde se concentrava o comércio naquela época. Não havia shoppings ainda. Mas as bicicletas eram caras. O dinheiro não dava. Por fim encontramos uma bicicleta e depois de contar todas as notas e moedas de nossos bolsos, o dinheiro que meus pais possuíam era exatamente o valor da bicicleta. Nem uma moeda a mais ou a menos.

Compramos a bicicleta e voltamos pra casa no fusca do meu pai naquela tempo. Mas enquanto estávamos todos alegres e falantes, ele dirigia sério e calado. Não deu outra: quando chegamos na avenida Brasil, a gasolina acabou! Dessa vez não havia um centavo sequer pra comprar o combustível, mas meu pai nos deixou no carro e saiu andando com um galão de plástico na mão.


Daqui a pouco ele voltou com a gasolina. Minha mãe queria saber o que ele tinha feito. Naquela época não havia cartão bancário muito menos cartão de crédito. Ele explicou: havia deixado sua carteira de identidade no posto, como garantia de pagamento, em troca da gasolina. No dia seguinte voltou no posto com o dinheiro (trocadinho) e pegou sua carteira de volta.

Os anos passaram. Uma vez minha mãe e minha irmã foram passar uns dias numa fazenda na serra. Meu pai as levou e depois foi buscar. No alto da serra havia acontecido um acidente grave no dia anterior e a pista ainda estava cheia de óleo dos veículos que se acidentaram. Foi numa curva fechada.


Meu pai derrapou e perdeu o controle do carro. Caiu no abismo, capotando muitas vezes, até parar, com as 4 rodas no ar. Com muita dificuldade conseguiu sair são e salvo de dentro do automóvel, que só não pegou fogo porque não tinha gasolina.

19 comentários:

  1. ismaelita
    4 de junho de 2010 às 16:32

    nossa que história amiga!
    já passei por maus momentos devido a gazolina na reserva..melhor prevenir e evitar acidentes,
    a paz

  1. J.R. Fernandez
    4 de junho de 2010 às 17:05

    Leila querida!
    Adorei o texto.
    Meu pai também tinha este hábito de usar moedinhas nos postos... ao ler me veio a lembrança imediatamente. Mas ele não andava com o tanque no limite. :-) rs
    Uma situação interessante que me lembrou quando falaste da capotagem, foi que quando eu era pequeno minha irmã (também pequena) fez com meu pai um "adivinha quem é?" tapando os olhos dele... o problema é que ele estava dirigindo. Fazer o que? Na época não tinha cinto de segurança. Resultado: o carro também capotou várias vezes e ficou destruido... e por um milagre nenhum de nós sequer se machucou. Coisas da vida. :-)
    Beijo no coração, Fernandez.

  1. Erich Pontoldio
    4 de junho de 2010 às 17:07

    Ta vendo só como existem problemas que as vezes se transformam em solução ???
    Ótimo texto

  1. J.R. Fernandez
    4 de junho de 2010 às 17:08

    Ah! Quase esqueci de comentar... os desenhos estão ótimos. Amei!!!
    Bjs.

  1. Anônimo
    4 de junho de 2010 às 17:09

    Leila,

    Você tem estórias muito interessantes para contar. Também vivi essa época em que só podia colocar pouca gasolina no carro, por consequencia, o carro vivia com o tal do giglê entupido.

    Beijocas

  1. Jackie Freitas
    4 de junho de 2010 às 17:13

    Leila!
    Adorei a história e os desenhos... realmente o seu talento é admirável e a leveza com que você nos conta é tão envolvente que ficamos sempre querendo saber mais (pelo menos eu!).
    Quanto ao acidente, no final, só posso concluir que: nada acontece por acaso...(estar sem gasolina)....
    Grande beijo, amiga
    Jackie

  1. Edegard
    4 de junho de 2010 às 18:03

    Parabéns pela sua matéria. Amiga seu Pai era uma pessoa de muita sorte, afinal escapar ileso desse acidente é um milagre. Adorei os desenhos em crayon.
    Abraços

  1. Jairo Cerqueira
    4 de junho de 2010 às 18:18

    Muito bom o texto, Leila. Que bom que não aconteceu nada de grave.
    Perceber o belo na tragédia é algo que não está ao alcance de todos.
    Um abraço!

  1. LISON COSTA
    4 de junho de 2010 às 18:49

    Saudações Fraternas!
    AMIGA LEILA, li a sua fascinante história, e cheguei a conclusão que o seu adorável pai com um grande homem economizava cada centavo e enfrentava diariamente os entraves da vida sempre pensando no amanha a todos vocês sem jamais perder as esperanças.
    Parabéns pelo lindo Post!
    Abraços,
    LISON.

  1. Mr.Jones
    4 de junho de 2010 às 19:43

    Agora sei a vantagem de andar na reserva.
    Historia emocionante.
    bjao

  1. Rumquatronove
    4 de junho de 2010 às 20:48

    AhHWháháwhá!! Seu pai me esvaziou o tanque de tanto rir,agora,Leila! Ele fez igual ao Tio Patinhas,e foi sortudo igual ao Gastão,aWháwuhá,rs..!

  1. BLOGZOOM
    4 de junho de 2010 às 23:24

    Pode acreditar que meu pai só andava tambem com pouco combustivel?! E tambem dirigia um fusquinha que uma vez capotou mil vezes e ele saiu ileso mesmo sem usar cinto de segurança?!
    Opssss.... nossas vidas são parecidas algumas vezes, lendo voce, eu reencontro comigo mesma! Obrigada pela viagem!

  1. Douglas Archanjo
    5 de junho de 2010 às 23:48

    É verdade esse história?? uuaehuaeh Caralho se não tivesse final feliz não estava rindo agora como estou rsss.

  1. Edu Gomes
    6 de junho de 2010 às 01:41

    Leila, essa é a pura prova de que o que parece ser azar é pura sorte. Parabéns pelo texto e como você desenha bem hein?

    Abraço!

  1. Darcy Mendes
    7 de junho de 2010 às 09:07

    Uma história e tanto! Aliás, ainda bem que não foi a brasília (eta carro para pegar fogo). Até com cheiro de gasolina ela se incendiava!!!

  1. Douglas Almeida
    10 de junho de 2010 às 14:59

    Você deseja bem, hein!
    Mas sobre o texto, eu sou da seguinte opinião: às vezes, passamos por situações complicadas e chatas, mas que no final acabam fazendo sentido. Acho que se enquadra nesta situação que nos contou.

  1. Jânio
    28 de julho de 2010 às 05:19

    Olá Leila:

    As pessoas são unânimes em afirmar que aquele tempo era bem mais difícil, mas se esquecem que também era mais fácil de viver.


    naquele tempo todos tinham saúde, trabalhavam muito e honravam a família. Hoje as coisas são mais fáceis, mas não dá para confiar em ninguém, nossos alimentos, o ar que respiramos, tudo está impuro.

    Não dá para voltar atrás, por isso seguimos em frente, com fé e coragem.

    ABS

  1. Carros
    24 de outubro de 2010 às 01:56

    Olá cara Amiga, Parabéns por seu Blog! Muito Bom!

    Sou Editor do TOL Carros e gostaria de fazer parceria, seu Blog já está nos parceiros do TOL Carros e gostaria de pedir para incluir nosso banner ou nosso Link em seu Blog. Para pegar nosso banner acesse: http://www.carros.tol3.net/seja-um-parceiro

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