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O dinheiro está em toda parte

terça-feira, 30 de junho de 2009 by Leila Franca


Vou aproveitar que estamos no final do mês para falar sobre dinheiro. Semana passada tive um daqueles momentos (que eu acho que acontece com todas as pessoas) em que paro para pensar sobre o que eu faria se não estivesse fazendo o que faço agora para ganhar dinheiro. Pensei então nas pessoas que estão atualmente desempregadas, as que procuram o primeiro emprego e as que precisam de um dinheiro extra no final do mês. Muitas se sentem imobilizadas diante dessas circunstâncias. Procuram anúncios de oferta de emprego, entregam currículos e se sentam perto do telefone semanas a fio. Isso pode acontecer com qualquer um, principalmente em tempos de crise.

Antigamente, quando não se falava em outra coisa a não ser numa crise, que parecia permanente no Brasil, tive um professor de Problemas Brasileiros na faculdade que dizia que não havia crise nenhuma, que se houvesse uma crise pra valer não haveriam carros circulando nas ruas porque faltaria dinheiro. Se as ruas estão cheias de automóveis, existem filas nos supermercados e os shoppings estão cheios de gente, então não há crise.

Mas a gente lê nos jornais sobre falências e demissões. Uma vez um amigo me falou que quando uma pessoa é demitida de seu emprego, ela deve entender este fato como uma oportunidade para tentar trabalhar por conta própria. Ao sair da empresa que lhe pagava as contas, o indivíduo estaria finalmente livre para explorar sua habilidade de ganhar dinheiro por si mesmo.

Há muitos anos atrás, quando eu tinha 18 anos, me vi completamente sem dinheiro. Era verão e eu estava acampando numa praia com um grupo de amigos. Enquanto estávamos nos divertindo no mar, um ladrão roubou tudo que tínhamos na barraca: dinheiro, comida e até nossas roupas. Ficamos descalços, de biquini, sunga, sem nada pra comer e sem um tostão naquele lugar longe de casa. Mas o ladrão não levou uma caixa de papelão onde havíamos guardado sementinhas e conchinhas de recordação. Nem as revistas que compramos para nos distrair, nem umas contas de bijuteria, fio de nylon e tesoura que minha amiga levou para passar o tempo.

Rapidamente nos reunimos em mutirão e fizemos vários colares e pulseiras com o papel das revistas, as sementes, conchas e contas (ainda vou criar um post ensinando a fazer este trabalho) e saímos para vender ali na praia mesmo, onde estávamos acampados. Vendemos tudo e naquele dia mesmo já tínhamos dinheiro para comprar um belo peixe para o almoço e esperar até que nossos pais pudessem nos buscar.

Adoro essas coisas feitas de repente. Essas atitudes tomadas num momento de crise são atos de fé em si mesmo. É aquela coisa de “tem que dar certo ou então estamos fritos!” Quando morava em Boston, nos Estados Unidos, eu estava no Harvard Square, quando vi uma mulher, aparentando ser uma dona de casa americana comum, parar na calçada, com uma mesinha e uma cadeirinha de praia. Ela colocou algum material de pintura na mesinha e ficou em pé segurando um cartaz de papelão, onde havia escrito à mão “Painting faces” (pinto rostos). Ela própria tinha um coraçãozinho azul pintado na bochecha.

Ela chegou de manhã e passou o dia inteiro em pé segurando o cartaz. A cadeira, que ela havia levado para que os clientes sentassem, ficou vazia o dia todo. Quem iria sentar ali e pagar para ela pintar um coração em seu rosto? Eu trabalhava na loja em frente e fiquei curiosa para o que iria acontecer. Meus colegas de trabalho também notaram a presença da mulher, inclusive um deles já nervoso, falou que se ninguém sentasse na cadeirinha ele próprio sentaria lá no final do expediente e teria sua face pintada só para que a mulher tivesse um cliente.

Girl (5-7) having face painted, close-up

Mas não foi necessário. Quando saí do trabalho naquele dia, a mulher estava pintando um coração na face de um cliente e ainda havia outros dois esperando! Que felicidade eu senti! A mulher havia escolhido fazer a coisa mais improvável do mundo para ganhar dinheiro e ainda assim conseguiu.

Uma vez também vi um garoto de uns 12 ou 13 anos, todo arrumadinho, vestido com boas roupas, em pé numa rua movimentada, segurando uma bicicleta novinha com um cartaz onde havia escrito “US$ 100”. Pela aparência do garoto, ele não estava ali por necessidade e poderia até conseguir os $100 se pedisse aos pais, mas ainda assim ele queria vender a bicicleta. A gente vê essas coisas nos Estados Unidos.

Não ter vergonha de se expor faz parte do esquema. Muitas vezes ficamos presos à imagem que cultuamos de nós mesmos, ao status. Temos medo da rejeição e da opinião dos outros. O negócio é largar isso tudo pra lá e ir à luta.

O improvável acontece. Querendo me livrar de tralha na minha casa, coloquei vários móveis usados mas em bom estado à venda, inclusive um armário de banheiro quebrado e bastante usado. Até pensei que seria melhor colocá-lo no lixo, em vez de juntá-lo às outras coisas que queria vender. Depois de uma semana, a única coisa que consegui vender foi o armário de banheiro! Achei até engraçado que aquilo tivesse acontecido. Realmente, sempre tem alguém querendo comprar o que queremos vender.

Mas voltando ao assunto do início do post, eu estava aqui tentando imaginar o que faria se não tivesse o emprego que tenho hoje. Pensei em várias possibilidades e até senti uma pontinha de medo. Fui dar uma olhada no blog de Brian Tracy, cujos livros gosto de ler, e li o artigo "The Butterfly Effect", onde ele fala sobre aquelas pessoas que encontramos na vida que de alguma forma contribuem para mudar o rumo do nosso pensamento.

Por coincidência, horas depois, encontrei um amigo de faculdade que não via há anos. Naquele tempo, eu me lembro que ele sempre levava roupas na mochila para vender para os colegas de turma. Ele não perdia uma oportunidade. Num momento da conversa, ele falou “O dinheiro está em toda parte!” Sim, é através dessas lentes que devemos ver o mundo e foi esse o encontro que acalmou minha alma naquele dia.

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