Minha mãe não me ensinou a cozinhar porque, dizia ela: "Não te criei pra ficar na cozinha!" Mas, obviamente, esta idéia era um pouco fora da realidade. Todo mundo tem que comer, senão morre! E sem saber fazer absolutamente nada, ficamos na dependência de que outros o façam ou temos que comprar tudo pronto, o que não é muito recomendável.
A primeira vez que precisei cozinhar foi num acampamento do grupo de bandeirantes que eu fazia parte. A chefe dividiu as equipes e eu fiquei encarregada da cozinha. Se ela soubesse de meus dotes culinários, teria feito outra divisão! O macarrão que preparei tornou-se uma coisa só, branca amarelada, que não saiu nem por decreto do fundo da panela (que tivemos que jogar fora, uma vez que era absolutamente impossível lavar). Assim, rapidamente fui afastada da função e continuei sem poder aprender nem o be-a-bá da cozinha.
Num outro acampamento, onde um ladrão nos roubou quase tudo o que levamos para comer e para fazer a comida, fui fazer um peixe com minha amiga Gelita (aquela do artigo "Sobrevivi!!!") O fogão eram duas pedras com uns gravetinhos pegando fogo no meio. Não sabíamos o que fazer para cozinhar a cabeça e o rabo do peixe, que estavam apoiados nas pedras, já que não tínhamos uma grelha. No final, quando um lado do peixe estava começando a queimar e estávamos fazendo um verdadeiro contorcionismo para virar o peixe para o outro lado, começou a chover forte! A chuva apagou o fogo e molhou nosso único fósforo. O jeito foi comer o lado queimado do peixe, com cabeça, rabo e o outro lado sem cozinhar.
Mas a hora que me dava mais vontade de cozinhar era assim tarde da noite, quando eu e minha irmã já tínhamos comido todas as besteiras da casa, mas queríamos mais alguma coisinha pra distrair enquanto víamos um filme. Uma vez cismei de fazer batata frita. Eu não tinha nem idéia de quantas batatas devia pegar pra fazer uma porção. Então peguei quase dois quilos de batata e fiquei um tempão descascando e picando. Depois uma eternidade fritando. Acho que eu já estava meio que dormindo porque depois de toda aquela batata pronta, cometi um erro imperdoável: coloquei açúcar naquilo tudo.
Sem perceber a besteira que havia feito, me sentei na sala com uma das várias travessas de batata frita que preparei. Mas bastou que experimentássemos a primeira batata para descobrir o problema! E agora??? Resignada, lá fui eu pra cozinha com todas aquelas batatas e comecei a lavar cada uma na pia pra tirar aquele açúcar. Depois tive a paciência de secar cada batata frita com um paninho de prato. Provei uma e ainda tinha gosto de açúcar... Então resolvi colocar bastante sal, mas um punhadão mesmo pra cobrir aquele gosto. Conclusão óbvia: ficou horrível. De manhã minha mãe não entendeu nada com todas aquelas batatas espalhadas por toda parte na cozinha.
Depois tive um namorado que me pediu, coitado, que eu fizesse alguma coisa doce na cozinha, quem sabe um quindim? Em vez de comprar um daqueles pacotinhos que já vem semi-pronto, resolvi seguir uma receita que levava uns 24 ovos. Nem pensei que aquilo tudo tinha que caber dentro de alguma forma. No final, a coisa transbordou dentro do forno e começou a pegar fogo e o meu namorado teve que correr no carro e pegar um extintor de incêndio pra apagar a fogueira que se formou dentro do forno. Nunca mais faço quindim!
Só quando casei é que fui fazer feijão pela primeira vez. Nem me passou pela cabeça que eu teria que primeiro catar o feijão. Não catei nada e o resultado foi que só quando coloquei o feijão no prato é que fui ver as pedras e os gravetos cozidos. Tive que jogar tudo fora, mas não me dei por vencida. Fiz outro feijão, desta vez catando bem antes de pôr na panela. Depois de pronto, eu já me achando o máximo, resolvi fazer um suco de manga. Descasquei a manga rosa e quando ia cortar os pedaços para colocar no liquidificador, a manga, escorregadia, escapou das minhas mãos feito um peixe e vuupt! caiu dentro da panela do feijão!
Está bem... pelo menos doce de leite em lata eu tenho que saber fazer!!! Hellooô!!! Coloquei a lata de leite condensado pra cozinhar na panela de água fervendo, mas não sei o que eu fiz (acho que não esperei esfriar para abrir). O doce de leite fervendo espirrou pra fora da lata e grudou todo no teto da cozinha!
Eu estava realmente triste pela minha falta de habilidade culinária e fui contar pra minha amiga Mary o que andava fazendo na cozinha. Mas a Mary estava mais desesperada que eu. Ela, recém-casada, resolveu fazer galinha no jantar para o maridinho. Mas não sei o que deu na cabeça dela: comprou uma galinha viva e levou pro apartamento decorado com capricho. Sabendo menos que eu, Mary pegou uma faca e começou a perseguir a galinha que corria apavorada no apartamento. O resultado é que ela teve que tirar as cortinas, o tapete, trocar o forro do sofá etc e nunca mais quis saber de fazer galinha.
Nos dias de hoje, ainda prefiro pegar o telefone e pedir uma pizza ou comprar comida a quilo num restaurante, mas aprendi a fazer um bolo de chocolate tão maravilhoso, mas tão maravilhoso... que foi até considerado afrodisíaco.
Meu amigo Gil tinha vindo da Europa com a esposa estrangeira e me convidou pra passar uns dias em Salvador, na Ilha de Itaparica, onde tinha uma casa. Claro que fui. Não tinha ninguém na ilha. Parecia que éramos só nós. Era a praia e eu, eu e a praia. Mas um dia de tarde resolvi fazer um bolo de chocolate.
Dessa vez eu caprichei. Caprichei mesmo e o bolo ficou uma delícia. Todos comeram até não poder mais! Uns dois meses depois, Gil me telefona lá da Europa dizendo que, depois de vários anos casados, sua esposa havia ficado grávida! "Foi aquele bolo!!!", ele disse. E eu pensei comigo mesma: acho que aprendi a cozinhar!
27 de novembro de 2009 às 22:55
KKKKKKKKKKLeila, você foi mesmo um desastre na cozinha,mas aquele bolo me deu água na boca. Agora, eu vou ti contar a minha primeira experiência como cozinheiro. Fiz o arroz, arroz novo. Me disseram que eu não podia por muita água. então, eu o afoguei e fui pingando água, fui vigiando. Começava secar, eu ia lá e pingava umas gotas de água, até que ele cresceu e ficou soltinho na panela, mas esse foi o primeiro e, não sei se será o último, porque depois desse não viz mais nada, a não ser um café de vez em quando.
Adorei a sua história.
João