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O caso das moedinhas

domingo, 1 de novembro de 2009 by Leila Franca


Meu pai sempre gostou de entreter as crianças com truques de mágica usando moedas. Fazia a moedinha desaparecer misteriosamente diante dos olhinhos perplexos e depois ela aparecia como por encanto atrás de uma orelhinha, de uma trancinha ou cachinho de cabelo. Meninas e meninos riam e queriam saber como ele havia feito aquilo, mas ele não contava. Bastava eu estar entediada ou chegar uma criança e lá ia ele revirando os bolsos a procura de uma moedinha e a brincadeira recomeçava.

Ele também adorava a brincadeira "Bento-que-bento-é o frade" e a criançada da rua esperava ansiosa para responder "Frade!" e ele continuava: "Na boca do forno?", e todo mundo respondia bem alto: "Forno!!!" e mais uma vez ele dizia: "Tudo o que seu mestre mandar???" e a criançada em coro gritava "Faremos todos!!!" E saía todo mundo fazendo o que ele dissesse: andar num pé só, correr até o poste e bater 3 vezes, pegar um gravetinho, sua imaginação não tinha fim quando se tratava desta brincadeira que as crianças não brincam mais.

Quando passeávamos de carro, ele ia apontando os morros e inventando nomes pitorescos para me divertir. "Aquele ali é o morro da Formiguinha Descalça!", "Hoje nós vamos na praia do Pirata Careca!", "Esse é o rio da Mariposa Prateada, você já ouviu falar?" E assim começavam as histórias que ele contava para que eu não ficasse cansada da viagem. Talvez venha daí o meu hábito de contar histórias.

Mas as brincadeiras com as moedas sempre foram as mais marcantes. Quando meu pai morreu em 1996 me pedindo que eu não ficasse triste por sua morte pois ele tinha realizado todos os seus sonhos eu o obedeci, mas decerto pensei que o mágico das moedas não iria mais divertir as crianças a partir daquele dia.

Entretanto, eu estava enganada. Pensem o que quiserem, meus queridos leitores, mas o fato é que percebi, subitamente, a partir da morte do meu pai, que muitas moedas começaram a aparecer no meu caminho. Não se tratava de qualquer moeda, mas principalmente moedinhas de 1 centavo, aquelas que a gente quase não usa e podem ser separadas para uma brincadeira.

As moedas não apareciam em qualquer dia, mas sobretudo quando eu estava com alguma decisão importante a tomar, um problema qualquer ou uma fase ruim. Não foi difícil associar a descoberta de moedas e a figura do meu pai. Era como se ele estivesse ali, me apoiando naquele momento.

Às vezes ocorre também de encontrar as moedinhas em momentos de vitória. Dado meu estilo de vida, acontece muito comigo de comemorar sozinha algo que conquistei. (É um pouco chato, lhes garanto, mas o que se há de fazer?) Então já aconteceu de eu estar vibrando com uma notícia boa e ao mesmo tempo encontrar brilhando uma moeda de 1 real. Sim... houve uma ênfase aí.

Um momento mágico se deu quando eu tive que tomar uma séria decisão. Andei muito a ermo pela cidade só pensando no que eu deveria fazer. Meu pensamento dava voltas, ia em círculos e eu não conseguia encontrar a resposta. Eu já estava ficando verdadeiramente atormentada, não dormia ou comia direito só pensando. Se fosse possível espremer um pensamento até sair caldo, isso teria acontecido. Até que um dia, já esgotada, vi brilhando na calçada uma moedinha de 1 centavo. Um metro adiante havia outra moeda, mais dois passos e outra moeda. E lá fui eu seguindo a trilha. A cada moeda que eu me abaixava pra pegar, eu dizia: "Papai!"

A trilha de moedas dava num telefone público. Parei diante do telefone e descobri boquiaberta que sobre ele havia um montinho de moedas de 1 centavo. Tentei pegar todas de uma vez e uma delas caiu, saiu rolando pela calçada, mas antes de atingir a rua, rodou e veio certinho tilintar entre os meus pés e o telefone. Os pensamentos chacoalharam na minha cabeça e formaram o mosaico perfeito que eu tanto procurara. Peguei o telefone e tomei minha importante decisão.

2 comentários:

  1. Educação Ativa
    1 de novembro de 2009 às 18:41

    poxa que legal!
    quando amamos alguém realmente , coisas estranhas acontecem...prefiro crer que não são apenas coincidencias, mas sim as mãos de DEUS trabalhando a nosso favor.
    um beijão e muita paz!

  1. Leila Franca
    1 de novembro de 2009 às 19:53

    Wander,

    Fico feliz em ver você aqui no meu blog.

    Leila

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