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Com uma pequena ajuda dos amigos

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010 by Leila Franca


Ontem o carinho de todos comigo me fez pensar nos amigos - os antigos também. Os amigos do tempo que havia um clube perto da minha casa que apesar do pomposo nome "Iate Club", era chamado de "Barracão". O clube havia recebido este apelido porque possuía um salão de madeira construído sobre o mar onde haviam bailes, sempre às quartas-feiras. O problema é que minha mãe não me deixava ir! A fama do clube não era lá das melhores, mas as festas eram conhecidas pela animação. Por isso, eu tinha que ir nem que fosse escondido.

full moon through clouds

Houve uma noite que fingi que ia dormir. Me vesti pra sair e deitei debaixo das cobertas. Assim que a casa ficou em silêncio, me levantei, peguei colchas e cobertores e coloquei na cama, amassando daqui e dali até parecer com a forma do meu corpo. Ainda fiz uma "cabeça" e coloquei sobre o travesseiro e caprichei colocando uma peruca de carnaval sobre aquela bola de pano. Depois cobri tudo com o cobertor. Ficou ótimo! Pulei a janela e em dois minutos eu estava na rua, rindo comigo mesma.

Fui até a casa da minha amiga Lúcia. Nós já tínhamos combinado tudo. Assim que cheguei no portão pude ver que ela estava pulando a janela de seu quarto, que dava pra frente da casa. Mas com a Lúcia a coisa ia ser mais complicada, pois o quarto dela ficava no segundo andar. Ela caminhou com cuidado pelo telhado sobre a varanda e olhou pra baixo. Era alto pra pular. Foi para o lado da casa, onde havia um barranco e as árvores cresciam bem junto do telhado. Ela se agarrou nos galhos de uma árvorezinha que crescia na beirada e pulou. A árvore não aguentou seu peso e quebrou. Só vi a Lúcia caindo com os galhos e um monte de barro despencando, mas ela só sujou um pouco a calça.

Descemos a rua, pegamos um ônibus e meia hora depois já estávamos no Barracão! O baile como sempre animadíssimo. Dançamos a noite toda. Às vezes eu ficava até com medo daquela estrutura toda desabar e cairmos todos no mar, pois o barracão balançava inteiro com tanta gente dançando e marcando compasso.

Group of friends celebrating at party in night club

O baile ia de 11 da noite às 4 da madrugada. Por isso, na volta tivemos de ir a pé para casa, pois não havia ônibus àquela hora. Eram uns 3 quilômetros de caminhada. Começamos a andar e logo nos juntamos a duas outras garotas, que conhecíamos e assim fomos em passos rápidos pelas ruas desertas e escuras.

Estávamos bem no meio do caminho quando um automóvel se aproximou de nós e começou a andar devagar nos acompanhando. Não vi quantos rapazes estavam lá dentro, mas começaram a falar com a gente. Muito sérias de medo, continuamos a andar olhando pra frente. O carro avançou um pouco mais e parou uns 50 metros adiante. Atravessamos a rua e ficamos sem saber se devíamos voltar nos afastando de casa ou seguir para frente nos aproximando do ponto onde o carro havia parado. Naquela hora desejei estar dormindo na minha cama no lugar daqueles cobertores!

Car tires smoking

O carro começou a voltar de marcha ré. Intuitivamente, partimos em direção contrária, como se fôssemos voltar para o clube, mas poucos passos depois, ouvimos uma voz que vinha do pilotis de um prédio. "Entrem aqui! Venham pra cá!" Não sei porque, mas confiamos instantaneamente naquela voz e entramos rápido no prédio onde não conhecíamos ninguém. Perto da portaria, havia um rapazinho magrinho, que nos falou: "Fiquem aqui um pouco até que aquele carro vá embora. Eles vão pensar que vocês moram aqui." Esperamos.

Woman against a tree

Uns quinze minutos depois nos atrevemos a olhar. Não havia ninguém na rua. "Vou levar vocês em casa", disse o garoto, que devia ter a nossa idade. E assim caminhamos de volta para nossas casas e ele nos acompanhou a pé. Já na porta da minha casa, disse ao garoto para encontrar com a gente no dia seguinte na praia. Contei a ele o lugar onde costumávamos ficar.

E assim nos encontramos na praia, não somente naquele dia, como também nos cinco anos seguintes, quando ele foi morar em outro país.

Não sei como, reconhecemos a voz de um amigo. Até hoje, pra mim é um mistério o porque confiamos nele naquela noite. Sabemos intuitivamente quando é um amigo que nos chama, qual é o seu tom e acreditamos em suas palavras.

A este amigo, que se chama Gil, que até hoje mantenho contato, e a todos os outros que conheci, dedico a música "A little help from my friends", cantada por Joe Cocker, no festival de Woodstock.


vídeo: ianhawdon

12 comentários:

  1. Dieguito
    8 de janeiro de 2010 às 22:01

    Joe Cocker é tudo de bom. E sobre a emoçao e perido nessa situaçao...Eu só acho o maximo a intensidade de tudo.
    bjs

  1. Luísa
    8 de janeiro de 2010 às 22:01

    É verdade Leila.
    Há vozes que nos dão a segurança necessária para confiarmos. É muito bonita e envolvente a tua narrativa.

    Adorei, assim como o Joe Cocker!

    beijos
    Luísa

  1. Valéria Braz
    8 de janeiro de 2010 às 22:24

    Adorei a música... ótima escolha.
    Como sempre você foi maravilhosa... realmente sabemos quando podemos confiar em alguém!
    beijo no coração

  1. Júlio [Ebrael]
    8 de janeiro de 2010 às 22:29

    Há tantas coisas que podem sinalizar um amigo ou um inimigo: não só a voz, mas a inclinação dos gestos, do corpo, do olhar. E aí nossas antenas do sexto ao centésimo sentido, que ainda mal conhecemos...kkkkkkkkk

    Bjs Leila!

  1. Lilian
    9 de janeiro de 2010 às 00:37

    Olá querida amiga,

    Foi excelente a narração desse fato que aconteceu em sua juventude.

    Acho que a mão de Deus está a cuidar de seus filhos nessas horas de apuros e dá a certeza do reconhecimento da pessoa a quem confiar, através de qualquer sinal, nesse caso, acho que a voz trnasmitiu a vocês a segurança necessária para crer e aceitar o que o jovem disse.

    Parabéns pelo post!

    Carinhoso e fraterno abraço,
    Lilian

  1. Isabel Ruiz,
    9 de janeiro de 2010 às 09:35

    Oi, Leila.
    Acredito que reconhecemos a voz de um amigo, porque ela vai além dos nossos ouvidos: toca o coração. Para mim, esse é o um dos milagres da vida, achar um amigo nas situações mais inusitadas, nos lugares mais improváveis.
    Abraço
    Bel

  1. Roberto Luiz de Lima
    9 de janeiro de 2010 às 09:50

    Saudações,

    "Amigo" é o maior dos presentes !
    chave de ouro com Joe Cocker .

    Saude e PAZ !

    Roberto Luiz de Lima

  1. Principe Encantado
    9 de janeiro de 2010 às 10:09

    Muito bonita sua narrativa, as vezes a voz do silêncio é muito amiga, neste momento podemos reconhecer oa verdadeiros ou verdadeiro amigo.
    Abraços forte

  1. Joselito
    9 de janeiro de 2010 às 10:42

    Alguns mistérios .... como você disse o nosso instinto animal as vezes serve para alguma coisa ... ou não.

  1. Essa Borboleta tem Dono
    9 de janeiro de 2010 às 13:13

    Amiga o Vídeo escolhido na postagem completa à o conto real com chave de outro, muitos cruzam o nosso caminho, poucos destacam-se e poucos tornam-se verdadeiros amigos. Nesse Caso um Anjo Amigo. Beijo no seu coração e de todos os seus leitores e amigos.

  1. Anônimo
    9 de janeiro de 2010 às 18:58

    Não existem fórmulas, mas conseguimos reconhecer um amigo no seu tom de voz, na delicadeza de sua atenção, na sua presença nas horas críticas e pelo seu semblante quando estamos felizes.

    Beijocas

  1. Eninha Campos
    16 de maio de 2010 às 00:42

    Leiloca !! você é a mulher aventura cheia de sorte !

    O fechamento dessa história não poderia ser mais lindo. With A Little Help From My Friends é liiiinda . Você já ouviu com os Beatles ? Também é o máximo !
    beijinhos

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