Subscribe to RSS Feed

Sonho Americano

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010 by Leila Franca


Uma das melhores coisas quando a gente viaja é experimentar a comida do local que estamos visitando. Entretanto, se ficarmos um pouquinho mais de tempo no lugar, é impressionante, mas tudo o que iremos querer será nossa própria comida!

Close-up of a sandwich in a plate

Quando cheguei nos Estados Unidos, fui logo experimentando os enormes sanduíches que valem por uma refeição. Provei também os sacos com comida pronta e congelada (muito gostoso, embora custe mais que uma ida a um restaurante).

Amei as famosas tortas de maçã, os quiches, os cookies e os donuts. Fui devagar nos wraps e tacos mexicanos cheios de pimenta. Abusei até demais da grande variedade de cafés (só não experimentei o café com gelo... arrg!!!), dos milk shakes e sundays, embora tenha rejeitado um sorvete azul da cor e textura de um bom copo de sabão em pó diluído em água com um pouco de espuma em cima.

close-up of a slice of pie with ice cream and a cherry garnish

Mas e o meu feijão com arroz? Arroz até que era fácil de encontrar, mas o feijão foi mais difícil. Achei um feijão da Nicaragua, que não tinha uma cara lá muito boa, mas foi impossível encontrar uma panela de pressão. Ninguém usa. Como fazer um feijão ruim sem panela de pressão? O dito cujo ia cozinhar por séculos e séculos e jamais ficaria no ponto.

Estava com esse problema quando fui num churrasco na casa de americanos de classe média. Pra começar, não tinha carne, do jeito que a gente entende carne. Tinha hambúrguer! Mas a dona da casa me perguntou se eu queria um pouco de feijão para acompanhar o churrasco. "Eba! Eba! Feijão!" e ganhei um pratinho, quase um pires com uma colher de feijão no meio. Parecia feijão manteiga dos bons. Mas foi uma decepção! Era doce de feijão!!! Feijão com açúcar!!! Nãããooo!!!

High angle view of baked beans on toast on plate with fork and knife

Depois de 12 horas no fogo, meu feijão nicaraguense até que não ficou mal. Um pouco ralo ainda, mas ia melhorar se tivesse uma farofa! Lá fui eu pro mercado, pra descobrir que não tem farinha em parte alguma daquele lugar. Achei uma farinha de banana mexicana... mas tinha a textura de maizena. Não dava.

O pior foi quando comecei a sonhar e a desejar desesperadamente uma simples paçoquinha. Um doce de leite com amendoim? Uma cocada? Um pé de moleque? Um doce de abóbora em forma de coração? Nem pensar! Nem os doces mais finos e rebuscados que encontrei num brunch do Meridién conseguiram aplacar meu desejo por uma paçoca e um doce de leite. Aquilo estava se tornando uma tortura. Nunca pensei que fosse sentir falta dessas coisas.

Close-up of a doughnut on a plate

Mas o pior de tudo foi quando me deu vontade de comer sonho. Eu sonhava com um sonho. Podia ser de creme ou de doce de leite, não importava. Tudo que eu queria era um sonho de padaria. Ficava até com raiva da impossibilidade de satisfazer minha vontade, já que não tinha sonho em parte alguma. Já estava disposta a abandonar toda minha vida naquele lugar em busca daquele sonho coberto de açúcar que só existia no Brasil.

Andei a ermo pela cidade olhando as vitrines, os prédios, o movimento das pessoas, via tudo, menos o sonho. Nada me faltava, mas sem o sonho de creme ou doce de leite, eu não podia ser feliz.

side view of a woman's hand holding a doughnut to her mouth

Entrei na estação de Back Bay, comprei meu bilhete e sentei num banco a espera de um dos trens da Amtrak. Foi quando vi de longe aquela lojinha que exibia o que parecia ser um sonho na vitrine! Corri, literalmente, até lá e pedi o sonho. Dei uma boa mordida e... era oco! O recheio, que parecia até queijo de pastel chinês, ficava só de um lado, era vermelho! O recheio era gelatina! Aaaaarrrg!

Nossa! Aquilo não era sonho, era pesadelo! Um baita sonho falsificado! Joguei aquela porcaria no lixo e pouco depois voltei para o Brasil, onde pude encontrar meu verdadeiro sonho.

13 comentários:

  1. Principe Encantado
    13 de janeiro de 2010 às 16:31

    Caramba quanto sofrimento, que pesadelo, até desanima de conhecer esse lugar tão falado, minha nossa.
    Abraços forte

  1. Unknown
    13 de janeiro de 2010 às 16:34

    não há lugar como o nosso lar...

    se puder, de uma olhadinha no meu blog ;)

    http://gargalhandopordentro.blogspot.com/

  1. Erich Pontoldio
    13 de janeiro de 2010 às 16:43

    A culinária brasileira é realmente abençoada e qdo saímos do país sofremos.
    Nos EUA comer feijão é coisa muito difícil...
    E frutas? A aparencia é linda...são grandes, brilham como luz e da água na boca...da uma mordida pra ver ... parece que vira chiclete na boca

  1. Iит€я€รรǺитт€
    13 de janeiro de 2010 às 16:44

    Por mais fantástico que seja os outros lugares, com o passar do tempo sempre sentiremos saudades do nosso próprio lugar.

    Show de bola sua narrativa Leila, sempre com um ar de mistério kkkk

    Grande Abraço!

  1. Luísa
    13 de janeiro de 2010 às 17:16

    Leila,

    Eu sou suspeita... mas nunca fui à bola com "o sonho americano"! rsrsrsr

    Bem, acredita que eu, não sendo muito viajada, adoro as comidas de todos os sítios por onde passei. Bem, passei mesmo de passagem... rsrsrs porque, se fosse para ficar, penso que também iria ter muitas saudades de algumas iguarias que são muito nossas, e que normalmente nem lhe damos o devido valor!

    Linda história!

    Beijos
    Luísa

  1. Valéria Braz
    13 de janeiro de 2010 às 17:39

    KKKKKKK... Leila, lembrei da minha mãe quando você fala do doce de abóbora em forma de coração!
    Ela adora... e aqui também não se acha muito fácil.
    Teve um dia que ela me fez andar o dia inteiro... literalmente o dia inteiro na cidade pra achar este doce....
    Adorei a sua história.
    Beijo no coração

  1. Anônimo
    13 de janeiro de 2010 às 19:34

    ahahahahhaa, fantástica a sua experiência, é incrível como as diferenças são gigantescas.

    Abraços

  1. Deus é fiel
    13 de janeiro de 2010 às 19:45

    Paz Leila!
    Deve ser terrível não encontrar as coisas que estamos acostumados a comer aqui.
    O lugar mais longe que visitei,foi em Montevideo e odiei comer "pollo" que só estava assada por fora e perto do osso estava crua...
    Quero conhecer o nordeste do nosso país e provar suas comidas diferentes...hahaha
    Beijos!

  1. Marcos Mariano
    13 de janeiro de 2010 às 20:07

    kkkkkkkkk
    nossa leila imagino seu sofrimento
    eu sou louco por fejão,num como sem feijão nem a pau,só de imaginar um país que não tem feijão ja me da medo,mas a informação foi boa,quando eu planeja um viagem dessas ja sei o que não vou deixar de levar na minha mala rsrs bjos

  1. claudine ribeiro
    13 de janeiro de 2010 às 21:59

    Olá amiga Leila, adorei seu relato. Nunca damos o devido valor a nossa culinária, isto só acontece quando viajamos. Adoro feijão com arroz e farofa, sonho, queijo de coalho, queijo de manteiga...Não vivo sem as guloseimas nordestinas. Imagino o que passaste lá. Quando estamos com vontade de comer alguma coisa e não existe onde estamos, esse desejo aumenta em proporções assustadora.

    Bjão.

  1. vovolili
    13 de janeiro de 2010 às 22:12

    Olá querida amiga Leila,

    Adorei sua narrativa.

    Você falando desses doces, foi me dando água na boca. E que tristeza não encontrar o que se quer.
    O pior é que não dá para levar nada. A fiscalização não perdoa.
    Quando estive em NY, não senti falta de nenhum produto, pois minha sobrinha Helen, que na época morava lá, providenciou tudo, inclusive o feijão.
    Assim é bom viajar, não é?, não precisei passar pelo sufoco que você passou.

    Parabéns pelo texto. Excelente.

    Carinhoso e fraterno abraço,
    Lilian

  1. Valéria Mello
    13 de janeiro de 2010 às 23:19

    É verdade, com toda ruindade no Brasil temos a melhor comida do mundo!

    Churrasco de americano é churrasco de carne moída! aff

  1. concentrado
    14 de janeiro de 2010 às 03:19

    Olá Leila, prefiro ficar no meu cantinho que é esse maravilhoso país, meu Brasil.

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails

Picapp Widget