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Quando o ladrão se dá mal

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009 by Leila Franca


Uma amiga me contou que no dia de sua mudança, de uma casa para outra, um fato inusitado aconteceu. Sua família havia passado o dia inteiro desmontando móveis, empilhando caixas e enchendo um caminhão. A noite chegou e ainda não haviam terminado, mas já estavam cansados demais para continuar. Faltava levar pouca coisa: várias gavetas vazias, que ficaram empilhadas num dos quartos, o estrado de uma cama, o esqueleto de um armário, caixas com livros didáticos e aqueles cacarecos que niguém sabe onde guardar e que sempre sobram no final de uma mudança.

Moving Boxes in a Living Room

A família resolveu dormir no chão de um dos quartos, com alguma roupa de cama que haviam reservado para forrar o assoalho e continuar a mudança no dia seguinte. Entretanto, com o movimento da mudança, as duas garotas, filhas do casal, não conseguiram dormir logo. Ficaram acordadas até tarde conversando. Uma delas, ainda estava tentando dormir, quando ouviu um barulhinho vindo da cozinha. Com o ouvido tão perto do chão, ela ouviu os passos no piso de madeira. Ficou quieta.

Aquelas pisadas, que ora se afastavam ora se aproximavam, entrou no quarto onde a família quase toda dormia. E foi assim, pela claridade da luz da rua, que entrava pela janela sem cortinas, que a garota viu os pés e parte das pernas do ladrão, que deu meia volta no quarto e saiu.

Briefcase and Legs

No dia seguinte ninguém parou de comentar. Um ladrão havia sim entrado na casa, por uma janela esquecida aberta, mas não deve ter entendido nada do que viu. Possivelmente pensou: que casa estranha! Pilhas de gavetas sem nada dentro, cozinha sem fogão, sem geladeira, quartos sem camas e uma família inteira dormindo no chão da casa bacana. Não roubou nada, pois não havia o que roubar e saiu da mesma forma com que entrou!

Algo parecido aconteceu na minha casa. Minha irmã havia chegado tarde de uma festa e ainda não estava dormindo quando viu duas mãos chapadas no vidro da janela de seu quarto. Sem fazer barulho, ela saiu da cama e foi engatinhando pelo corredor comprido até o quarto dos meus pais. Acordou meu pai e ele foi até o quintal, sem fazer barulho, levando consigo as bombinhas em forma de palito de fósforo que guardava para este tipo de ocasião.

Waking up early

No quintal, meu pai viu o ladrão escondido atrás de um barco que havia comprado para reformar. No chão, estavam os remos. Meu pai se aproximou do ladrão por trás, sem ser visto, e com um dos remos, deu uma "palmada" no indivíduo, que tomou o maior susto e saiu correndo. Meu pai soltou umas duas bombinhas cujo ruído se parece com tiros de arma de fogo, para garantir. No dia seguinte, descobrimos que, na fuga, o ladrão deixou cair seus documentos e pôde ser identificado.

Mas isso tudo foi num tempo que os ladrões não eram tão brabos quanto os atuais. Mas os de hoje também podem se dar mal. Não faz muito tempo que eu estava num ônibus atravessando a ponte Rio-Niterói. Lógico, nessa pista não temos nenhuma parada em seus quase 14 quilômetros e dos dois lados só há o mar. No último ponto, antes do ônibus começar a atravessar a ponte, um grupo de pivetinhos e pivetões entrou.

Mal começamos a cruzar a baía, os garotos anunciaram o assalto. O mais velho parecia ser ainda menor de idade, uns 16 ou 17 anos, e o mais novo devia ter uns 7 ou 8 anos. Em silêncio, os passageiros entregaram suas carteiras, relógios e objetos de valor, inclusive eu, enquanto o ônibus seguia o seu caminho. Todos os objetos roubados iam sendo guardados numa mochila, que o menorzinho deles carregava.

Backpack

O grupo de ladrões ficou alguns minutos na frente do ônibus, controlando os passageiros até que o veículo terminasse a travessia. Quando os pivetes saíram do ônibus, os passageiros suspiraram aliviados, mas foram logo interrompidos por um homem que estava sentado na primeira poltrona lá na frente, que começou a rir alto: o pivetinho havia esquecido a mochila no ônibus!

Além de cada um pegar de volta o que era seu, ainda haviam outros objetos possivelmente de outros roubos, que foram entregues ao motorista.

Abaixo, um vídeo de um ladrão que também se deu mal. É muito engraçado. Vale a pena ver.


Vídeo: lodelahiti

5 comentários:

  1. Nanoverso Tirinhas
    8 de dezembro de 2009 às 20:06

    Efeitos colaterais nocivos da civilização ocidental...
    Estranho pensar que isso praticamente não existia nos sistemas indígenas de comunidade.

    Abraços.

  1. Unknown
    8 de dezembro de 2009 às 21:37

    Leila,
    Este assunto, nem é para rir, mas eu estou farta de rir! Adorei aquela tua observação "no tempo em que os ladrões não eram tão brabos"... rs
    Sabes, por aqui contam-se histórias, e eu sempre as achei um exagero, mas começo a acreditar nelas. Quando alguém vai de férias ao Brasil, há sempre uma data de gente a dar conselhos, uns que conhecem o Brasil, outros que não, mas toda a gente mete o bedelho. Uma das histórias é essa mesmo a dos assaltos nos autocarros, e outra é: não parar o carro nos semáforos vermelhos - esta eu acho o máximo: se o sinal está vermelho, continua-se a andar? rs

    Um relato primoroso e um vídeo hilariante!

    Beijos
    Luísa

  1. LISON
    9 de dezembro de 2009 às 00:35

    Saudações!
    Amiga Leila,
    É como diz a minha amniga Luísa, "não é para rir", mas, não consegui,KKKKK...Graças a Deus que tudo terminou em paz!
    Gostei muito da narrativa...Ótimo texto!
    Parabéns pelo post!
    Abraços fraternos,
    LISON.

  1. Carlo Lazzaroni
    9 de dezembro de 2009 às 01:32

    Infelizmente hoje em dia os ladrões matam a toa toda hora. Já foi-se o tempo em que ladrão era ladrão e matador matador: profissionalismo esquecido. Totalmente desprotegidos, os cidadões brasileiros ainda tiveram que votar para ter o direito de manter em suas casas uma arma para defender seus entes queridos (e ganharam com 70% dos votos), mas a pilhagem continua desde o politico mais alto, até o simples guardinha de rua.

  1. Victor S. Gomez
    9 de dezembro de 2009 às 11:28

    Antigamente ladrão chamava policial de Doutor, hoje... abraços

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