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Um barco e uma aventura

sábado, 5 de dezembro de 2009 by Leila Franca


"Não é porque moro no interior, que tenho que gostar de cavalo, de boi e de cheiro de estrume", disse uma amiga minha há pouco tempo. E eu pensei: realmente, o fato de eu morar perto da praia não quer dizer que eu tenha que gostar de barco ou de mar. Aliás, detesto barcos de qualquer tipo.

Desde o tempo que eu era bandeirante e o grupo foi convidado para um passeio num barco da Marinha, passei a detestar viagens marítimas. O problema não foi exatamente o barco ou os marinheiros, mas sim a tempestade com ventania que caiu durante o passeio, formando ondas enormes e fazendo a embarcação balançar pra frente, pra trás, para um lado e para o outro.

Ferry

Tivemos que ficar na parte de baixo do barco e a visão do mar pela janelinha não era nem um pouco amigável. Entre raios, relâmpagos e trovões, víamos um mar crespo cinza escuro de meter medo. As ondas vinham, cobriam as janelas e por alguns instantes a vista da janela era do fundo do mar e eu tinha a sensação de que o passeio era mesmo de submarino.

Submarine

Houve também uma vez, que eu peguei um aerobarco para atravessar a baía de Guanabara e chegar mais rápido ao centro da cidade. Estava chovendo e o mar, novamente, cinzento. Eu estava grávida de quase 9 meses. Era a última consulta do pré-natal antes de ter o bebê. No meio da baía, bem perto da ponte Rio-Niterói, sentimos um cheiro de fumaça e não deu outra: o barco parou. Uma outra embarcação veio nos resgatar poucos minutos depois. Quando a porta do barco abriu, fiquei besta de ver como os homens correram na frente para sair primeiro.

Thinkstock single image collection

Quando chegou a minha vez de sair é que fui ver o tamanho do barco que veio nos resgatar. O degrauzinho que eu teria de subir com aquele barrigão de 9 meses ia de 50 cm a 1,20m mais ou menos porque os dois barcos não paravam de balançar e obviamente não balançavam sincronizadamente. Enquanto um subia o outro descia e por isso o outro barco ficava mais baixo ou bem mais alto. Não tinha jeito de ir para o outro lado. Olhei em volta e vi que do aerobarco que eu estava saía um rolo de fumaça preta. O pior é que um aerobarco não foi feito pra gente andar do lado de fora, então não havia lugar para pisar ou para se segurar.

Um marinheiro, do outro barco, estendeu as mãos para me alcançar. E assim ele me suspendeu pelos braços e eu fui para o outro barco. Quase tive o filho ali mesmo.

Pregnant Woman in Hospital Room

Por causa dessas e outras aventuras, eu sempre preferi ver o mar nas manhãs claras de sol, na maré baixa. Perto da praia onde eu morava havia uma ilhota que tinha apenas uma casa com um pinheiro alto exatamente no meio. Era uma ilha particular. Quando eu tinha uns 15 anos, eu e minha amiga Lúcia descobrimos que batendo com uma pedra num poste de ferro exatamente três vezes, um barco saía da ilha e vinha até a praia. O poste era a "campainha" da ilha. Várias vezes eu e Lúcia batemos no poste e saímos correndo.

Às vezes saíamos nadando e chegávamos bem perto da ilha, mas nunca fomos até a casa, que parecia estar sempre fechada. Alguém nos dissera que lá só ficava o caseiro. Entretanto, gostávamos de ver a ilha da praia e imaginar seus mistérios. Até um dia, eu já com os meus 18 anos, fui convidada para ir a uma festa nesta ilha. Como eu ia perder esta festa? É lógico que eu vou!

An island property

Comidas, bebidas e convidados iriam em seus barcos até a ilha. Arranjei uma vaga num barco pequeno, quase um bote. Cada um levaria alguma coisa para festa. Minha amiga Gelita levaria as empadinhas. Eu resolvi fazer brigadeiros. Passei a tarde enrolando os brigadeirinhos, morrendo de vontade de comer, mas deixei tudo para a festa. A mãe da Gelita fez aquelas empadinhas maravilhosas, que só ela sabe fazer.

Tudo pronto, fomos para a praia encontrar nossos amigos. Todo mundo arrumado e o barco balançando na beirada do cais. Devia ser umas 9 horas da noite. O barco só aguentava cinco de cada vez. Então fui eu, Gelita e mais 3 amigos que iam remando (não tinha motor não!). Cada um levava uma bandeja com as comidas. As bebidas teriam que ir em outra viagem.

Thinkstock Single Image Set

Eu não largava a bandeja de brigadeiros, que planejei comer pelo menos a metade. As empadinhas da Gelita também eram imperdíveis. A gente morrendo de fome, mas não comemos nada antes, pois queríamos que tudo ficasse para a festa.

Dois rapazes foram remando até certo ponto, mas quando estávamos mais ou menos no meio do caminho até a ilha o que não estava remando resolveu remar um pouco e eles tiveram que trocar de lugar. Foi aí que aconteceu o acidente...

Kayak paddle in turbulent water

No fundo do bote havia uma rolha enorme, de uns 10 cm de diâmetro. O rapaz quando se levantou pisou na rolha e ela saiu do lugar, indo pra debaixo do barco! A água começou a entrar com vontade por aquele buracão! Um dos rapazes pulou na água pra tentar achar a rolha e tampar o buraco, mas no escuro foi impossível. Eu, Gelita e os outros dois tivemos que pular na água também porque o dono do barco queria tentar segurar o barco para que não fosse para o fundo.

Quase chorei quando vi os brigadeiros e as empadinhas desaparecendo na água... Eu e Gelita tiramos os sapatos e começamos a nadar de roupa e tudo. Naquele escuro e dava o maior medo... Chegamos na praia morrendo de frio. Os rapazes ainda ficaram um pouco lá na água tentando salvar o barco. Desistimos da festa e voltamos para casa para tirar aquela roupa molhada.

9 comentários:

  1. João Poeta
    7 de dezembro de 2009 às 00:44

    É, Leila, você tem toda razão para não gostar de barco. Depois dessa, passei a ficar com medo deste meio de transporte. Só andei uma vez, do Rio a Niterói. Felizmente, não pssei pelas tribulações que você passou.
    Gostei muito da sua história.
    JOão

  1. Unknown
    7 de dezembro de 2009 às 07:30

    Leila,
    Essa é uma aventura e pêras! Assim é difícil gostar de viajar de barco. Eu sou do interior e também fiz muitas tropelias em botes, nas ribeiras perto da casa da minha mãe. Mas gosto muito de viajar de barco. Bem, na realidade nunca fiz uma grande viagem, mas as que fiz gostei muito. Gostaria mesmo era de fazer uma num transatlântico. é um sonho de infância! eheheheh
    Beijos
    Luísa

  1. Mr.Jones
    7 de dezembro de 2009 às 07:35

    Que aventura hein? suspense, emoções e brigadeiro.

  1. eu
    7 de dezembro de 2009 às 08:35

    Que aventura heim Leila, gosto do mar mas longe de mim so para admirá-lo. a paz!

  1. Principe Encantado
    7 de dezembro de 2009 às 09:11

    Leila que coisa, parece que as ondas do mar lhe perseguem kakaka, muita coisa num só cenário.
    Abraços fortes

  1. Joselito
    7 de dezembro de 2009 às 19:59

    Grande Leila, uma grande perda mesmo, empadinhas e brigadeiros ....ainda se fossem almirantes ...

  1. LISON
    8 de dezembro de 2009 às 00:44

    Saudações!
    Amiga Leila,
    Gostei muito do seu relato e realmente ao que parece a brisa soprante da sorte trabalha contra você. Um texto brilhante cheio de suspenses e muito bem descrito como ocorrem os acidentes navais.
    Uma pena foi que você perdeu os brigadeiros, que tanto sonhou em saboreá-los!
    Parabéns pelo excelente texto!
    Abraços fraternos,
    LISON.

  1. JORNALISMO ANTENADO
    9 de dezembro de 2009 às 17:17

    Leila, realmente com suas "des"venturas em série com barcos, até eu teria pânico deles.
    Belissímo texto e obrigada por compartilhar suas experiencias conosco.
    Beijos

  1. Célia Regina Carvalho
    6 de junho de 2010 às 15:53

    Que bacana, Leila... A sua história me fez sentir vontade deescrever sobre as minhas aventuras no Velho Chico (é como chamamos carinhosamente o Rio São Francisco)... Da nascente á foz do Velho Chico foram muitas aventuras... Não tenho do que reclamar... Ao contrário de você: amo as águas, quer sejam do rio quer sejam do mar!

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